Artigo
Dr. Phillip Fearnside**
“O uso da terra e mudança do uso da terra na Amazônia contribuem para mudanças climáticas globais em diversas maneiras. No período 1981-1990, a emissão comprometida líquida de gases causadores do efeito estufa na Amazônia brasileira somaram 4% da emissão global de combustíveis fósseis e cimento. Gases são liberados pelo desmatamento através da queima e decomposição da biomassa, pelos solos, pela exploração madeireira, pelas hidrelétricas, pelo gado e pelas queimadas recorrentes de pastagens e de capoeiras. Incêndios florestais também emitem gases, mas não estão incluídos nos cálculos. Perda de um possível sumidouro de carbono no crescimento da floresta em pé também não está incluída.
Emissões líquidas comprometidas representam o saldo líquido, ao longo de um período longo, das emissões e absorções de gases por sumidouros, principalmente a absorção de gás carbônico (CO2) pelo crescimento da vegetação. Os gases traço, tais como metano (CH4) e oxido nitroso (N2O), que não entram na fotossíntese, acumulam na atmosfera quando estes gases são liberados pelas queimadas, mesmo quando a biomassa se recuperar totalmente, por exemplo no caso do capim.
Outras mudanças climáticas afetadas pelo desmatamento incluem a diminuição de chuvas devido à diminuição da reciclagem de água, sobretudo na época seca. As queimadas também afetam a formação de nuvens, e afetam a química da atmosfera em diversas maneiras além do efeito estufa. A contribuição da perda de floresta a estas mudanças climáticas, junto com outras mudanças globais tais como a perda de biodiversidade, fundamenta a adoção de uma estratégia nova para sustentar a população da região. Ao invés de destruir a floresta para poder produzir algum tipo de mercadoria, como é o padrão atual, usaria a manutenção da floresta como gerador de fluxos monetários baseado nos serviços ambientais da floresta, ou seja, o valor de evitar os impactos que se seguem da destruição da floresta.
O efeito estufa recebe contribuições de gases tais como gás carbônico (CO2), metano (CH4) e oxido nitroso (N2O) quando a floresta é desmatada, tanto pela queimada quanto pela decomposição da biomassa que não queima. O uso da terra, ou seja, a continuação de um uso da terra sem ter uma mudança do tipo de uso, também pode causar fluxos de gases, por exemplo, pela exploração madeireira na floresta, pelo manejo das pastagens, e pelas queimadas recorrentes das savanas amazônicas.
Além do efeito estufa, a conversão de floresta amazônica em pastagens reduz a evapotranspiração (perda de água por evaporação do solo), sobretudo na época seca, assim diminuindo o suprimento de água para a atmosfera. Água reciclada pela floresta amazônica mantém as chuvas tanto na Amazônia quanto no restante do Brasil. A falta de energia elétrica nas partes não amazônicas do Brasil no apagão de 2001, embora provocada neste caso por condições meteorológicas de origem não amazônica, deve levar a uma apreciação maior do valor do serviço ambiental da floresta em manter os padrões de precipitação e, portanto, a geração de energia por hidrelétricas.
Outros fatores climáticos afetados pela conversão de floresta em pastagens incluem o aumento do albedo da superfície, ou seja, a fração da radiação solar que é refletida. Também, a queimada lança grandes quantidades de aerossóis na fumaça, que alteram o balanço de calor e o estoque de núcleos de condensação de nuvens (CCN) no ar. O excesso de núcleos de condensação resulta na formação de gotas de água que são pequenas demais para cair em forma de chuva, assim diminuindo a precipitação. As queimadas também liberam compostos quimicamente ativos (NOx, N2O, CO), diminuam a taxa de remoção dos poluentes (pela chuva e pela reação com OH), e aumentam a taxa de formação dos poluentes (pela ação de raios). Quando o ar contém teores altos de compostos de nitrogênio e oxigênio (NOx) e ozônio (O3), o mecanismo natural de limpeza da atmosfera é atrapalhado, levando a ainda mais poluição, enquanto na ausência de queimadas, o ar na Amazônia tem teores de NOx e O3 característica do ar limpo sobre os oceanos, e as radicais hidroxilas (OH) combinam com o CH4 para formar água (H2O), assim limpando o metano do ar.
Um outro efeito da queimada é que as nuvens são mais altas, assim contendo gelo além de água em forma líquida. A produção de descargas elétricas em forma de raios é maior com a presença de gelo do que em nuvens formadas apenas de água líquida (tais como que caracterizam a Amazônia quando não há queimadas). O aumento da produção de raios leva a formação de N2O. Isto é um gás de efeito estufa, além de ter outros efeitos indesejáveis na química atmosférica (inclusive destruição de O3 na estratosfera). A mudança de nuvens baixos e úmidos para nuvens altos e frios também afeta a chuva: embora a quantidade de chuva seria a mesma, cairia com maior intensidade, o que poderia levar a mais erosão do solo.
Além da queimada, o papel do solo na liberação de gases também muda com o desmatamento. Na floresta amazônica, NOx (e N2O) do solo sob a floresta é reciclado sob a floresta, causando a maior parte a ser liberada em forma de NO2. Isto muda caso que a área esteja desmatada, com CH4 e NOx sendo liberados para a atmosfera.
O impacto climático mais conhecido provocado pelo uso da terra e a mudança do uso da terra é a contribuição ao efeito estufa através de emissões de gases. Gases são emitidos por desmatamento, queimadas recorrentes, exploração madeireira e inundações por hidrelétricas. A quantidade de emissões depende do ritmo do desmatamento e dos estoques de carbono, que, por sua vez, dependem da biomassa nas florestas originais e nas paisagens desmatadas, e os estoques de carbono nos solos. “
**O Dr. Phillip Fearnside é pesquisador do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e considerado um dos maiores nomes da ciëncia sobre mudan;as climáticas e desmatamento na Amazônia - Site: http://philip.inpa.gov.br
Dr. Phillip Fearnside**
“O uso da terra e mudança do uso da terra na Amazônia contribuem para mudanças climáticas globais em diversas maneiras. No período 1981-1990, a emissão comprometida líquida de gases causadores do efeito estufa na Amazônia brasileira somaram 4% da emissão global de combustíveis fósseis e cimento. Gases são liberados pelo desmatamento através da queima e decomposição da biomassa, pelos solos, pela exploração madeireira, pelas hidrelétricas, pelo gado e pelas queimadas recorrentes de pastagens e de capoeiras. Incêndios florestais também emitem gases, mas não estão incluídos nos cálculos. Perda de um possível sumidouro de carbono no crescimento da floresta em pé também não está incluída.
Emissões líquidas comprometidas representam o saldo líquido, ao longo de um período longo, das emissões e absorções de gases por sumidouros, principalmente a absorção de gás carbônico (CO2) pelo crescimento da vegetação. Os gases traço, tais como metano (CH4) e oxido nitroso (N2O), que não entram na fotossíntese, acumulam na atmosfera quando estes gases são liberados pelas queimadas, mesmo quando a biomassa se recuperar totalmente, por exemplo no caso do capim.
Outras mudanças climáticas afetadas pelo desmatamento incluem a diminuição de chuvas devido à diminuição da reciclagem de água, sobretudo na época seca. As queimadas também afetam a formação de nuvens, e afetam a química da atmosfera em diversas maneiras além do efeito estufa. A contribuição da perda de floresta a estas mudanças climáticas, junto com outras mudanças globais tais como a perda de biodiversidade, fundamenta a adoção de uma estratégia nova para sustentar a população da região. Ao invés de destruir a floresta para poder produzir algum tipo de mercadoria, como é o padrão atual, usaria a manutenção da floresta como gerador de fluxos monetários baseado nos serviços ambientais da floresta, ou seja, o valor de evitar os impactos que se seguem da destruição da floresta.
O efeito estufa recebe contribuições de gases tais como gás carbônico (CO2), metano (CH4) e oxido nitroso (N2O) quando a floresta é desmatada, tanto pela queimada quanto pela decomposição da biomassa que não queima. O uso da terra, ou seja, a continuação de um uso da terra sem ter uma mudança do tipo de uso, também pode causar fluxos de gases, por exemplo, pela exploração madeireira na floresta, pelo manejo das pastagens, e pelas queimadas recorrentes das savanas amazônicas.
Além do efeito estufa, a conversão de floresta amazônica em pastagens reduz a evapotranspiração (perda de água por evaporação do solo), sobretudo na época seca, assim diminuindo o suprimento de água para a atmosfera. Água reciclada pela floresta amazônica mantém as chuvas tanto na Amazônia quanto no restante do Brasil. A falta de energia elétrica nas partes não amazônicas do Brasil no apagão de 2001, embora provocada neste caso por condições meteorológicas de origem não amazônica, deve levar a uma apreciação maior do valor do serviço ambiental da floresta em manter os padrões de precipitação e, portanto, a geração de energia por hidrelétricas.
Outros fatores climáticos afetados pela conversão de floresta em pastagens incluem o aumento do albedo da superfície, ou seja, a fração da radiação solar que é refletida. Também, a queimada lança grandes quantidades de aerossóis na fumaça, que alteram o balanço de calor e o estoque de núcleos de condensação de nuvens (CCN) no ar. O excesso de núcleos de condensação resulta na formação de gotas de água que são pequenas demais para cair em forma de chuva, assim diminuindo a precipitação. As queimadas também liberam compostos quimicamente ativos (NOx, N2O, CO), diminuam a taxa de remoção dos poluentes (pela chuva e pela reação com OH), e aumentam a taxa de formação dos poluentes (pela ação de raios). Quando o ar contém teores altos de compostos de nitrogênio e oxigênio (NOx) e ozônio (O3), o mecanismo natural de limpeza da atmosfera é atrapalhado, levando a ainda mais poluição, enquanto na ausência de queimadas, o ar na Amazônia tem teores de NOx e O3 característica do ar limpo sobre os oceanos, e as radicais hidroxilas (OH) combinam com o CH4 para formar água (H2O), assim limpando o metano do ar.
Um outro efeito da queimada é que as nuvens são mais altas, assim contendo gelo além de água em forma líquida. A produção de descargas elétricas em forma de raios é maior com a presença de gelo do que em nuvens formadas apenas de água líquida (tais como que caracterizam a Amazônia quando não há queimadas). O aumento da produção de raios leva a formação de N2O. Isto é um gás de efeito estufa, além de ter outros efeitos indesejáveis na química atmosférica (inclusive destruição de O3 na estratosfera). A mudança de nuvens baixos e úmidos para nuvens altos e frios também afeta a chuva: embora a quantidade de chuva seria a mesma, cairia com maior intensidade, o que poderia levar a mais erosão do solo.
Além da queimada, o papel do solo na liberação de gases também muda com o desmatamento. Na floresta amazônica, NOx (e N2O) do solo sob a floresta é reciclado sob a floresta, causando a maior parte a ser liberada em forma de NO2. Isto muda caso que a área esteja desmatada, com CH4 e NOx sendo liberados para a atmosfera.
O impacto climático mais conhecido provocado pelo uso da terra e a mudança do uso da terra é a contribuição ao efeito estufa através de emissões de gases. Gases são emitidos por desmatamento, queimadas recorrentes, exploração madeireira e inundações por hidrelétricas. A quantidade de emissões depende do ritmo do desmatamento e dos estoques de carbono, que, por sua vez, dependem da biomassa nas florestas originais e nas paisagens desmatadas, e os estoques de carbono nos solos. “
**O Dr. Phillip Fearnside é pesquisador do INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e considerado um dos maiores nomes da ciëncia sobre mudan;as climáticas e desmatamento na Amazônia - Site: http://philip.inpa.gov.br