Sistema desenvolvido na Universidade de Brasília apresentou 70% de acerto.Tecnologia pode ser aplicada em outras áreas que necessitam de monitoramento
Um programa de computador desenvolvido na Universidade de Brasília (UnB) se mostrou capaz de prever, com até 70% de precisão, as áreas com maior risco de desmatamento no sul do Pará, uma das regiões mais ameaçadas da Amazônia. Fruto do doutorado de um coronel da Aeronáutica, o sistema pode ser ampliado para o resto da floresta, assim como ser utilizado para combater outros problemas, como a disseminação da dengue e da febre amarela. O AmazonPD analisa as características da floresta -- como a localização das árvores, a proximidade a rios e a inclinação do solo -- e as estatísticas de desmatamento de anos anteriores. A novidade é que ele não apenas estima as taxas prováveis de desmatamento, mas também mostra onde a destruição vai ocorrer. “O objetivo é orientar onde aplicar os esforços de combate ao desmatamento diretamente para a área onde ele deve ocorrer”, explicou ao G1 o coronel Darcton Policarpo Damião, doutor em desenvolvimento sustentável e mestre em sensoriamento remoto. O programa revela que as áreas onde há mais desmatamento reúnem certas características especiais. Geralmente, a derrubada ocorre em áreas próximas a outras que já foram devastadas e a rios, onde se concentra a maioria das populações da floresta. A inclinação do terreno também é um fator importante. “Ninguém quer tirar tora de madeira no desfiladeiro”, explica Damião.
O pesquisador colocou em seu banco os dados da região de São Félix do Xingu, no sul do Pará, de 1985 a 2000 e testou a capacidade de “previsão” do sistema. “1988 é passado para nós, mas é o futuro de 1985. Pegamos as características de 85 e vimos o que acontecia em 88. A partir dessa data, seguimos de quatro em quatro anos e os dados se fortaleceram”, afirma ele. Quando chegou em 2000, Damião resolveu fazer uma projeção de dados e estimar como seria o desmatamento quatro anos depois. Quando 2004 chegou, os resultados se mostraram melhores que o esperado e o acerto passou de 70%. Com os dados de 2004, Damião formulou como será o desmatamento em 2008 na área –- no final do ano, pretende confirmar seus dados e acredita que eles vão bater. “A relação entre os dados e os resultados é bastante clara. É como saber que dois mais dois é igual a quatro e, com isso, ter certeza que quatro mais quatro vai ser oito”, diz ele. Diretor do Instituto de Estudos Avançados do Comando-geral de Tecnologia Aerospacial da Aeronáutica, Damião gostaria de ver seu projeto ajudando a combater o desmatamento na prática. Não é algo que ele possa fazer em seu centro de pesquisas. “Tenho diversos pesquisadores aqui, de diversas áreas, mas o instituto não trata de trabalhos ambientais”, diz ele. “No entanto, estou aberto a propostas, porque não quero ver essa tecnologia parada”, afirma Para colocar o AmazonPD para trabalhar em toda a área da Amazônia seria necessário um investimento em equipamento e em pessoal. A adaptação do programa em si levaria pelo menos um ano. O trabalho, acredita o cientista, valeria a pena. “Se conseguirmos baixar em apenas um dólar as perdas por hectare por ano com o desmatamento, vamos economizar milhões, que poderão ser investidos em saúde, em educação. Por isso, o esforço compensa”, completa.