19 de março de 2008

Discurso - Homenagem ao Dia Internacional da Mulher


A mulher merece todos os parabéns e todo o carinho da sociedade. É responsável pelo lar e, em meio a essa responsabilidade, vive uma vida de conquistas. Basta olhar a história e verificar o quanto avançamos e o quanto ainda temos por avançar.

Quero, porém, neste dia de homenagens, em meio às comemorações do Dia Internacional da Mulher, propor uma nova bandeira de luta. Muitas de nós imaginam que as mulheres não têm mais razão para lutar, depois da queima de sutiãs, do direito ao voto feminino, da conquista de algumas vagas no parlamento, das vitórias da presidente do Chile, Michelle Bachelet, ou da primeira-ministra da Alemanha, Ângela Merkel.

Não é verdade. Além da nossa luta cotidiana pela sobrevivência e dignidade de nossas famílias, quero propor uma nova bandeira para todas nós.

Como representante do Estado mais preservado do País, o Amazonas, e da condição feminina na Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional, sinto o tamanho da responsabilidade mundial sobre essa tema. Vejo, por outro lado, o empenho de diversos setores, uns mais organizados que os outros, na defesa da Amazônia, na luta contra o desmatamento, pela preservação ambiental. Nada, porém, de muito concreto está sendo feito.

É por isso que proponho, neste momento, que deste encontro saia um documento com uma posição clara das mulheres e suas entidades representativas aqui presentes, com relação ao asfaltamento da BR-319. Eu explico:

O Amazonas, que tem 98% do seu território preservados, é o único Estado isolado do resto do Brasil por via terrestre. Quem quiser chegar ao Amazonas ou vai de avião ou vai de navio. Por estrada, só se quiser se aventurar nos atoleiros da BR-319, asfaltada em 1977 e hoje transformada em charco.

É bom para o Brasil que o Amazonas fique isolado assim? Interessa aos brasileiros ter a principal fatia nacional da Amazônia abandonada dessa forma? Claro que não.

Os ambientalistas, nacionais e estrangeiros, condenam a estrada. São contra o asfaltamento porque ele levaria para a Amazônia os grandes produtores de soja do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, alguns dos quais já trabalham no Estado de Rondônia, e que promoveriam o desmatamento desenfreado da floresta.

Surge, então, a possibilidade de substituir a rodovia por uma ferrovia. Os trilhos são bem diferentes do leito de uma estrada, com estações localizadas apenas nas sedes municipais e sem incentivar outras povoações.

A bandeira que proponho a este fórum tem a ver com a preservação ambiental e, portanto, com a mulher, com o homem, com a criança, com toda a humanidade.

O Amazonas precisa romper o isolamento do Brasil. Ferrovia é melhor que rodovia, sem dúvida alguma, com relação à questão da manutenção da Floresta Amazônica. A preservação interessa ao planeta e os países mais desenvolvidos estão vivamente astentos a isso.

Nós da Amazônia e do Amazonas entendemos que, já que a melhor opção é pela ferrovia, que seja uma ferrovia decente. Está na hora de o Governo Brasileiro, via Itamaraty, fazer gestões junto aos grandes países, Estados Unidos, Alemanha, Japão, Inglaterra, França e Austrália, especialmente, para criar uma ligação digna do Amazonas com o Brasil.

Se vamos ter ferrovia, que seja uma ferrovia com trens de alta velocidade, como o TGV que opera entre Paris e Estrasburgo, na França, capaz de trafegar a mais de 500 quilômetros por hora.

Entre Manaus e Porto Velho, a distância é próxima de mil quilômetros. De Porto Velho a Cuiabá, outros mil e tantos quilômetros. Para fazer esse percurso de carro é um sacrifício, uma aventura para quem tem muito tempo, mas muito complicada para o transporte regular de cargas e passageiros. Um trem, como um TGV francês, proporcionaria mais conforto e rapidez para os brasileiros caboclos, que dominam a sabedoria de explorar a floresta sem devastá-la.

O Amazonas precisa romper o isolamento. Se os grandes países querem a Amazônia preservada, que invistam para isso, a fundo perdido, os recursos que o Brasil não tem para construir uma ferrovia dessa porte.

Trago a proposta a esse fórum porque sei da força da mulher. E acho que essa força precisa de uma nova bandeira, concreta, direta, pontual, visível, possível, factível, como é o caso da substituição da BR-319 por uma ferrovia de alto nível, pela qual o Amazonas seja interligada a Brasília e daí com o resto do Brasil.

Ferrovia Manaus-Brasília, com trem do tipo TGV francês. Essa é a bandeira do Amazonas e da Amazônia, que eu proponho seja, a partir de hoje, também uma bandeira feminina.

Muito obrigada.