24 de julho de 2008

Cientistas encontram novas pistas para explicar a Biodiversidade da Amazônia

A Era Glacial e o surgimento de uma extensa área alagada podem ter promovido a evolução de novas espécies de insetos na região da Amazônia, como sugere um novo estudo publicado no jornal "Plos ONE". Como se sabe, a bacia da Amazônia é um criadouro de rica biodiversidade da Terra, mas as razões para essa característica ainda precisam ser compreendidas. Um time de pesquisadores brasileiros e americanos, liderados por Scott Solomon, da Universidade do Texas, estudou três espécies de formigas cortadoras de folhas das Américas do Sul e Central para entender como a geografia e o clima afetam a formação de novas espécies. Para avaliar as mais populares hipóteses que tentam explicar a enorme diversidade de espécies na Amazônia, Solomon coletou amostras genéticas de 194 colônias de formigas espalhadas pela bacia Amazônica.

- É o primeiro teste completo com valor geográfico tomando por base a região de origem dos insetos na América do Sul. Para isso, utilizamos as formigas como modelo de sistema - disse o co-autor do estudo Ulrich Mueller. - Nós seguimos os passos de Alfred Wallace, naturalista pioneiro que, além de Darwin, percebeu que muitas espécies são encontradas em proximidades geográficas a espécies semelhantes.

Combinando análises de informação genética de espécies atuais com dados de espécies do período pré-histórico que se espalharam durante a última idade do gelo, a equipe encontrou suporte tanto para a hipótese da fuga do Pleistoceno (período entre 1.8 milhão e 10 mil anos atrás) como das hipóteses das incursões marinhas.

Segundo a teoria da fuga do Pleistoceno, houve um aumento de chuvas durante o último período da idade do gelo (cerca de 21 mil anos atrás), o que afetou o habitat de muitas espécies da Amazônia, como o das formigas cortadoras de folha, que conseguiram sobreviver. Aquelas espécies que eram únicas puderam evoluir e se multiplicar em outras espécies distintas, depois de terem sido separadas e isoladas. Então, cada espécie sofreu pressões particulares do meio ambiente.

De acordo com a hipótese das incursões marinhas, num período de 10 a 15 milhões de anos atrás, a combinação de eventos tectônicos (modificações na placa de terrestre) e elevação do nível dos mares gerou alagamento da bacia Amazônica com água salgada. Isso pode ter causado ainda grandes elevações de terra, como as montanhas dos Andes, que se transformaram em "ilhas", onde as espécies puderam evoluir isoladas.

Outra teoria chamada de barreira dos rios sugere que os rios tropicais serviram de barreira para a expansão genética, que entre os organismos terrestres. Mas, de acordo com o estudo, mesmo o Rio Amazonas, que tem quase dois mil metros de largura, não deixou de ser um obstáculo para as formigas, que desenvolveram asas.

- É interessante porque os rios da Amazônia funcionaram como barreira para alguns pássaros, mas as formigas foram capazes de atravessá-los - disse Solomon.

Estes resultados, afirmam os especialistas, não solucionam os mistérios da biodiversidade equatorial. É possível, por exemplo, que o alagamento da bacia Amazônica e o clima da era glacial tenham contribuído para essa especialização.

Fonte: O Globo Online /Foto: Revista Turismo