Ontem, Domingo de Páscoa, os cristãos do mundo inteiro refletiram sobre o significado do gesto supremo de Jesus Cristo, ao morrer na cruz do Calvário. Foi um marco, uma bandeira fincada no coração do ser humano e que se mantém tremulando ao longo desses quase 2 mil anos. Nem toda a mercantilização que cerca o momento foi capaz de torná-lo menos célebre. Mas, qual seria a Páscoa ideal?
A Páscoa originalmente rememora a saída do povo hebreu do Egito, após 430 anos de cativeiro, feito só superado teologicamente pelo sacrifício de Cristo. Sacrifício, perdão, redenção. Aí está a chave do que queremos.
Não há nada mais duro que a visão de poderosos insensíveis à miséria, sacrificando os mais humildes, roubando no peso dos alimentos, faturando com a usura, enriquecendo desmesuradamente às custas das carências da humanidade.
Perdoar é o melhor dos sentimentos humanos. É a antítese do ódio, um grande alívio no coração.
E, finalmente, a possibilidade de redenção rega todos os dias a semente da esperança. Tenho me aliado aos que lutam pela defesa ambiental, no momento em que os cientistas nos dizem ser praticamente irreversível o mal da ação humana no Planeta e inexorável o aquecimento global. Se não houvesse uma possibilidade de reverter esse quadro, tão fortemente arraigada no coração de todos, o que nos restaria? Cruzar os braços? Esperar pelo pior? Torcer, como num estádio de futebol?
Estamos, bem ao contrário, buscando facilitar o trabalho dos cientistas, sensibilizar o Executivo e fomentando a chama da esperança na redenção planetária.
A cheia é um símbolo dos males que estão por vir. Tudo bem, a maior cheia de todos os tempos na Amazônia ocorreu em 1953, quando não se falava em aquecimento global e Manaus tinha menos de 200 mil habitantes. Isso, para muitos, mostra que não é somente a ação humana responsável pelos problemas ambientais, mas, por outro lado, os observadores falam há muito tempo nos "ciclos caóticos" – cheias, terremotos, secas, furacões, a Era Glacial etc. – e observam que o tempo entre eles está diminuindo.
O Amazonas teve as maiores cheias em 1953, 1976 e 1989, mas não podemos esquecer a cheia de 2006, que a atual já conseguiu alcançar, depois do ano anterior, quando ocorreu a maior seca dos últimos 102 anos. Esses fenômenos naturais são tão poderosos que somente a esperança de redenção pode combatê-los, mas a redenção não ocorrerá sem união e desprendimento.
Ecologia é equilíbrio. Páscoa é reflexão. Tomara que a lembrança do sacrifício de Cristo transmita a força espiritual que precisamos para lembrar do que é realmente fundamental e continuarmos a luta por restaurar o caminho natural das coisas. Não são naturais, por exemplo, a miséria e a corrupção, o egoísmo e a depredação.
A mensagem pascal fundamental é de luta sim, mas pelos grandes objetivos da humanidade e pela redenção espiritual que virá, mesmo quando todos a considerarem impossível.
Páscoa eterna, no sentido de comunhão e fraternidade entre os homens, no Amazonas e no mundo.
13 de abril de 2009
segunda-feira, abril 13, 2009
A Páscoa ideal
Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas