29 de março de 2008

DICA DE SITE - Gilberto Dimenstein e o jornalismo cidadão.Um gênio que mora na rua




Para aqueles que estão cansados do mesmo lead, da mesma forma (e talvez fórmula) de se fazer jornalismo em nosso país, recomendo conhecer o trabalho de Gilberto Dimenstein. Seja escrevendo periodicamente na Folha de S.Paulo em sua coluna ou mesmo atravessando o país em palestras e encontros, esta humilde figura representa não só o que há de melhor em nossa imprensa, mas também um olhar verdadeiramente humano para a "coisificação" que empera as empresas de mídia. A valorização do ser humano, a sua participação na sociedade e uma reflexão sobre o que é ser cidadão. Confira abaixo um artigo publicado esta semana. E conheça mais seu trabalho em :






Um gênio que mora na rua

"Charles Pereira Gonçalves é um dos exemplos brasileiros mais definitivos de desperdício de talento --viciado em crack e infestado pela tuberculose, é um reconhecido gênio musical que mora na rua.

Quando era menino e tocava flauta nas ruas do centro de São Paulo, Charles chamou a atenção de músicos. Impressionou tanto e tanta gente que, em pouco tempo, foi convidado para estudar na Alemanha, onde seria aluno, com todas as despesas pagas, do primeiro flautista da Orquestra Filarmônica de Berlim. "Com estudo, ele vai ser um dos maiores flautistas do mundo", dizia o maestro Júlio Medaglia, que abriu para Charles o caminho até a Alemanha. Altamiro Carrilho disse, perplexo, que alguém tocar tão bem sem nenhum estudo, só teria uma explicação: " Reencarnação"

Mas Charles caiu na droga, não conseguiu viajar e hoje vive debaixo do Minhocão, no meio do barulho incessante e da poluição que só agrava sua tuberculose.

Por trás desse desperdício, existem a pobreza, a desestrutura familiar, a falta de educação e a limitada rede assistencial. Apenas nas regiões metropolitanas são sete milhões de jovens que não estudam nem trabalham. Sem contar os que estudam em escolas ruins, incapazes de desenvolver talentos. Por isso, ampliar a bolsa em dinheiro para jovens (o que eu concordo para reduzir a evasão) sem melhorar a escola, tornando-a uma porta de saída, beira o desperdício. Vemos como é difícil, depois de certo momento, recuperar um indivíduo e integrá-lo à sociedade.

Se o país imaginasse quanto talento é desperdiçado, ouviria melhor a poluição sonora da falta de perspectiva --assim como pode ouvir a genialidade perdida de Charles.

Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) uma pequena amostra do talento desse flautista."