Em homenagem aos aviadores do país e à Força Aérea Brasileira (FAB), a Deputada Rebecca Garcia realizou, na terça-feira (21), Sessão Solene do Congresso Nacional, no Plenário do Senado Federal. A solenidade contou com a participação de parlamentares e diversas autoridades militares, entre elas, o comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito, o comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Júlio Soares de Moura Neto e o comandante do Exército, General-de-Exército Enzo Martins Péri.
A sessão, que teve início ao som do Hino Nacional e terminou com o Hino da Força Aérea, orquestrado pela Banda Militar da Aeronáutica, foi repleta de homenagens, emoções e enalteceu o fundamental e essencial papel que é desenvolvido pela FAB.
Destacou também a importância da FAB para a projeção da aviação brasileira no mundo. “Uma instituição que verdadeiramente respeito e admiro pelo seu passado e pelo trabalho atual”. E lembrou o valor das mulheres aviadoras militares, que hoje vem se destacando pilotando caças, helicópteros e fazendo parte desta estrutura com muito orgulho. “O 23 de outubro será lembrado eternamente. Reflete uma lição do quanto o homem pode ir mais longe, mais rápido e mais alto”, finaliza Rebecca.
Confira o discurso da Deputada Rebecca Garcia na íntegra:
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Senadores e Deputados,
É com grande orgulho e satisfação que solicitei e participo desta merecida Sessão Solene em homenagem ao Dia do Aviador e da Força Aérea Brasileira, comemorado no dia 23 de outubro.
Há mais de 100 anos, no dia 23 de outubro de 1906, Alberto Santos Dumont alçou vôo em seu 14 BIS, com a presença da imprensa e dos órgãos oficiais de transporte da época. O brasileiro ousava enfrentar o ar. E a aviação permitia ao homem voar.
Nesta oportunidade, Senhoras e Senhores, gostaria de convidá-los a tentar entender um pouco mais do gênio criativo de Santos Dumont, o grande patrono da aviação brasileira e – por que não? – da aviação mundial.
Santos Dumont, que nasceu em 1873, era descendente de imigrantes, neto de franceses por parte de pai e de portugueses por parte de mãe, mas sempre creditava ao Brasil as suas grandes conquistas. Esse brasileiro genial viu pela primeira vez um balão aerostático numa feira, em São Paulo, em 1888. Em 30 de agosto de 1892, com a morte do pai, mudou-se para Paris, na França, para correr atrás dos seus sonhos. E, em março de 1898, conseguiu a primeira ascensão aérea.
Nas primeiras tentativas com o balão, uma curiosidade: Santos Dumont adaptou um motor e fez com que o artefato voasse pela primeira vez com propulsão própria, mas queria decolar contra o vento e foi convencido a decolar a favor do vento. Bateu numa árvore. Teve que refazer tudo e, dois dias depois, decolou contra o vento, obtendo sucesso e espantando os presentes.
O êxito da experiência fez com que ele fosse aperfeiçoando o invento. Surgiram os dirigíveis 2, 3, 4 e até 14, numa espécie de laboratório para o 14 BIS, que viria a seguir, sucedido pelo 16 BIS, que usava um motor.
O espírito inventivo de Dumont era patrocinado pelo próprio bolso. Por volta de 1901, encher um balão de 620 metros cúbicos com hidrogênio custava aproximadamente 500 dólares.
Infatigável e irrequieto, ele fez uma versão biplana e o avião número 18 tinha um deslizador aquático, tendo sido experimentado no rio Sena.
Santos Dumont, mais que um inventor, era um visionário. Queria transformar a aviação num veículo de transporte rápido de passageiros, correspondências e cargas. Ele tinha uma grande militância na imprensa, em defesa de suas idéias.
Em sua infatigável trajetória criou os libélulas, feitos de bambu e seda japonesa, o que, incluindo o motor, pesava não mais que 110 quilos. Em 1909, resvalando pelas cercas e copas de árvores, no segundo Libélula, Santos Dumont alcançou 95 quilômetros por horas, um recorde absoluto para a época, num percurso de oito quilômetros. Este seria seu último triunfo.
O jovem mineiro, que havia deixado a fazenda Cabangu nas terras alterosas, mostrou ao mundo que um sonho carregado de obstinação pode tornar-se realidade.
Entretanto, os Irmãos Wright, nos Estados Unidos, reclamaram para si esse feito. Diferentemente de Santos Dumont, que fez seu vôo em um circuito pré-estabelecido, sob testemunho oficial de especialistas, jornalistas e da população parisiense, os Irmãos Wright realizaram seu suposto vôo sem nenhuma testemunha.
Tenho convicção de que os Irmãos Wright vislumbraram um ambicioso interesse comercial na aviação. Enquanto isso, Santos Dumont demonstrava traços de um homem idealista. Faleceu no dia 23 de julho de 1932, no Guarujá. O coração dele se encontra, ainda hoje, no salão nobre da Academia da Força Aérea, em Pirassununga, São Paulo, num artefato artístico de ouro. Repousa como um símbolo, para que todos os jovens oficiais vejam o quanto se doou para tornar a aviação uma realidade.
Senhoras e Senhores, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, há uma casa construída por Santos Dumont. Chama-se A Encantada. A rua onde está localizada é a Rua do Encanto. É hoje um dos locais mais visitados por turistas que vão àquela bela cidade serrana fluminense.
A casa é uma lição. Tem chuveiro de água quente, com aquecimento a álcool. A escada externa permite começar a subida somente com a perna direita e a escada interna só permite subir com a perna esquerda. A casa possui três andares e o telhado tem um observatório espacial.
A grande lição de vida do Pai da Aviação está ali. Trata-se de uma casa pequena, sem grandes confortos, onde tudo está voltado para o local de trabalho. Ele pagou caro pela construção, encomendada de um grande especialista. Mandou vir diversos artefatos da Europa. Detalhou cada peça da casa. Em nenhum momento, porém, investiu no próprio conforto. A lição que fica daquela casa, A Encantada, é a de uma vida de dedicação.
De Santos Dumont aos dias atuais, o avanço brasileiro no setor cresceu vertiginosamente, e, hoje, as aeronaves produzidas por brasileiros são internacionalmente reconhecidas e neste momento estão cruzando os céus de todo o planeta.
Hoje, o Brasil e o mundo vivem a crise econômica mundial. A bolha imobiliária norte-americana estourou e continua fazendo vítimas pelo mundo inteiro. Breve, muito breve, a aviação deve sentir o maior impacto, como já vem acontecendo com outros setores da economia.
Não tenho qualquer dúvida, no entanto, de que o setor possui pessoal qualificado para escapar de mais essa turbulência. Formados no espírito de Santos Dumont, dispostos à renúncia para manter no ar o sonho de voar, homens e mulheres, brasileiros ou não, estarão oferecendo seu tempo e suas vidas para que o mundo ande mais rápido e com mais conforto.
A projeção da aviação brasileira no mundo deve-se ao idealismo de Santos Dumont, entretanto, cabe frisar que o altruísmo daquele homem se fez presente em uma instituição que verdadeiramente respeito e admiro pelo seu passado e pelo seu trabalho atual. Refiro-me a Força Aérea Brasileira, que de forma sábia e estratégica, colaborou para o atual desenvolvimento do transporte aéreo do Brasil. Por isso gostaria de parabenizar a Força Aérea Brasileira e todo o seu pelotão de servidores civis.
Neste dia tão importante, não poderia deixar de homenagear também as mulheres aviadoras militares, que hoje vem se destacando pilotando caças, helicópteros e fazendo parte desta estrutura com muito orgulho. Parabéns por terem conquistado este espaço.
Não posso esquecer também das esposas, companheiras, mães e filhas de aviadores da Força Aérea Brasileira. Árdua é a tarefa de defender o Brasil, porém o aviador tem essa missão como dever e suas companheiras, essas mulheres que os acompanham durante a vida, encaram essa missão com serenidade e estão sempre prontas para reiniciar a vida nos lugares mais distantes do Brasil. A todas essas mulheres guerreiras, o meu sincero parabéns.
Por fim, aproveito a oportunidade para fazer um agradecimento a Assessoria Parlamentar da Aeronáutica, que de forma profissional e atenciosa, está sempre presente nos diálogos e debates desta Casa Legislativa, representando os verdadeiros interesses do comando da aeronáutica no Congresso Nacional.
O 23 de outubro será lembrado eternamente. Reflete uma lição do quanto o homem pode ir mais longe, mais rápido e mais alto. A todos, um muito obrigada e mais uma vez parabéns!