Educação brasileira avança, mas revela grande lacuna. Pior situação está entre quem tem mais de 30 anos
O brasileiro passa pouco tempo nos bancos escolares e, ao atingir os 17 anos, ainda não terminou o ensino fundamental. Um estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), dá a dimensão da baixa escolarização de homens e mulheres. Para se completar o ciclo básico — ensino fundamental e médio —, seriam necessários 11 anos de estudo. Porém, nenhuma faixa etária no país sequer chega a esse patamar.
Para calcular a situação da educação dos brasileiros, o Ipea desenvolveu um novo indicador, batizado de hiato educacional. Ele mede os anos de estudo que faltam às pessoas que não cursaram os oito anos obrigatórios, conforme determina a Constituição Federal. Na população de 25 a 29 anos que se encontra nesta situação, o hiato é de 4,1 anos. Ou seja, essas pessoas passaram apenas 3,9 anos na escola. O quadro se agrava na faixa de mais de 30 anos, onde o hiato chega a 5,1 anos.
Entre os jovens de 15 a 17 anos, o hiato está em queda desde 1992, mas ainda é de 2,8 anos. “Se tivéssemos um sistema educacional adequado, o hiato nessa faixa etária deveria ser 1, no máximo”, afirma o diretor de estudos sociais do Ipea, Jorge Abrahão. Para ele, a defasagem é reflexo da repetência e da evasão. Embora 82,1% dos brasileiros nessa idade estejam na escola, apenas 48% deles cursam a série certa, freqüentando o ensino médio.
“Os avanços na educação brasileira acontecem de forma mais lenta do que gostaríamos. São importantes? Sim. Mas foram suficientes? Não”, declara o sociólogo Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e ex-diretor da Unesco no Brasil. O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, reconhece que a escolarização do jovem está longe do ideal, porém afirma que as políticas públicas estão adequadas à resolução do problema. Ele cita como exemplo a inclusão de jovens de 15 a 17 anos no Bolsa Família, e também o programa Brasil Profissionalizado, que integra o ensino médio ao profissionalizante.
O estudo do Ipea ressalta que, apesar dos problemas na educação, o acesso à escola está aumentando expressivamente, principalmente na creche e na pré-escola. Na faixa dos 7 a 14 anos, a tendência de universalização está estabilizada. A partir dos 18 anos, observa-se um decréscimo desde 2003. Esse é o grupo de idade com menor escolarização.
Mãe e filha - A família da dona-de-casa de Vilma Ribeiro, 29 anos, reflete bem a situação. Ela parou de estudar 17 anos, quando engravidou da primeira filha. Estava na 5ª série do ensino fundamental. Hoje, a primogênita, de 12 anos, está quase alcançando a mãe. Amanda está na 4ª série e, garante, só tira notas boas. O caçula, Igor, 9, cursa a 3ª série e diz que, na hora de fazer o dever de casa, não pede ajuda para os pais.
Vilma decidiu voltar a estudar. Vai se inscrever na Educação de Jovens e Adultos. “Às vezes, minha filha pergunta ‘Mãe, como faz isso?’, e eu não sei responder. Fico com vergonha.” Ela não quer parar no ensino básico. Pretende fazer faculdade de direito e se arrepende de ter abandonado a escola quando pensa que já poderia estar formada, vivendo uma outra realidade. Filha de analfabetos, Vilma acredita que, no passado, a importância com a educação não era tão grande quanto agora. “Hoje, a gente sabe que o estudo é tudo na vida da pessoa. Quero ver meus filhos formados.”
A análise do Ipea sobre os dados da Pnad também mostra queda na taxa de analfabetismo. Ainda assim, persistem as desigualdades de região, localidade e raça. Enquanto a média do Brasil é de 10%, com redução de 0,5 ponto percentual ao ano, no Nordeste, o percentual salta para 20%. No campo, 23,3% da população é analfabeta, contra 4,4% no meio urbano, e entre os negros a taxa é de 14,1%, contra 6,1% dos brancos.
O cálculo do Ipea é que o analfabetismo só será erradicado no país em 20 anos. “Se você é nordestino, negro e mora na área rural, seu presente e seu futuro serão bastante afetados. Por isso, são necessárias políticas públicas concentradas nessas especificidades”, ressalta o sociólogo Jorge Werthein. Já o secretário André Lázaro enfatiza que as desigualdades estão sendo bem combatidas. “No Nordeste, onde o analfabetismo é o maior do país, a cobertura escolar das crianças de 4 a 5 anos está excelente, melhor que todas as regiões do país. É uma mudança correta. A chance de termos analfabetos nessa geração é bem menor”, afirma.
Para calcular a situação da educação dos brasileiros, o Ipea desenvolveu um novo indicador, batizado de hiato educacional. Ele mede os anos de estudo que faltam às pessoas que não cursaram os oito anos obrigatórios, conforme determina a Constituição Federal. Na população de 25 a 29 anos que se encontra nesta situação, o hiato é de 4,1 anos. Ou seja, essas pessoas passaram apenas 3,9 anos na escola. O quadro se agrava na faixa de mais de 30 anos, onde o hiato chega a 5,1 anos.
Entre os jovens de 15 a 17 anos, o hiato está em queda desde 1992, mas ainda é de 2,8 anos. “Se tivéssemos um sistema educacional adequado, o hiato nessa faixa etária deveria ser 1, no máximo”, afirma o diretor de estudos sociais do Ipea, Jorge Abrahão. Para ele, a defasagem é reflexo da repetência e da evasão. Embora 82,1% dos brasileiros nessa idade estejam na escola, apenas 48% deles cursam a série certa, freqüentando o ensino médio.
“Os avanços na educação brasileira acontecem de forma mais lenta do que gostaríamos. São importantes? Sim. Mas foram suficientes? Não”, declara o sociólogo Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) e ex-diretor da Unesco no Brasil. O secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, André Lázaro, reconhece que a escolarização do jovem está longe do ideal, porém afirma que as políticas públicas estão adequadas à resolução do problema. Ele cita como exemplo a inclusão de jovens de 15 a 17 anos no Bolsa Família, e também o programa Brasil Profissionalizado, que integra o ensino médio ao profissionalizante.
O estudo do Ipea ressalta que, apesar dos problemas na educação, o acesso à escola está aumentando expressivamente, principalmente na creche e na pré-escola. Na faixa dos 7 a 14 anos, a tendência de universalização está estabilizada. A partir dos 18 anos, observa-se um decréscimo desde 2003. Esse é o grupo de idade com menor escolarização.
Mãe e filha - A família da dona-de-casa de Vilma Ribeiro, 29 anos, reflete bem a situação. Ela parou de estudar 17 anos, quando engravidou da primeira filha. Estava na 5ª série do ensino fundamental. Hoje, a primogênita, de 12 anos, está quase alcançando a mãe. Amanda está na 4ª série e, garante, só tira notas boas. O caçula, Igor, 9, cursa a 3ª série e diz que, na hora de fazer o dever de casa, não pede ajuda para os pais.
Vilma decidiu voltar a estudar. Vai se inscrever na Educação de Jovens e Adultos. “Às vezes, minha filha pergunta ‘Mãe, como faz isso?’, e eu não sei responder. Fico com vergonha.” Ela não quer parar no ensino básico. Pretende fazer faculdade de direito e se arrepende de ter abandonado a escola quando pensa que já poderia estar formada, vivendo uma outra realidade. Filha de analfabetos, Vilma acredita que, no passado, a importância com a educação não era tão grande quanto agora. “Hoje, a gente sabe que o estudo é tudo na vida da pessoa. Quero ver meus filhos formados.”
A análise do Ipea sobre os dados da Pnad também mostra queda na taxa de analfabetismo. Ainda assim, persistem as desigualdades de região, localidade e raça. Enquanto a média do Brasil é de 10%, com redução de 0,5 ponto percentual ao ano, no Nordeste, o percentual salta para 20%. No campo, 23,3% da população é analfabeta, contra 4,4% no meio urbano, e entre os negros a taxa é de 14,1%, contra 6,1% dos brancos.
O cálculo do Ipea é que o analfabetismo só será erradicado no país em 20 anos. “Se você é nordestino, negro e mora na área rural, seu presente e seu futuro serão bastante afetados. Por isso, são necessárias políticas públicas concentradas nessas especificidades”, ressalta o sociólogo Jorge Werthein. Já o secretário André Lázaro enfatiza que as desigualdades estão sendo bem combatidas. “No Nordeste, onde o analfabetismo é o maior do país, a cobertura escolar das crianças de 4 a 5 anos está excelente, melhor que todas as regiões do país. É uma mudança correta. A chance de termos analfabetos nessa geração é bem menor”, afirma.
Fonte: Correio Braziliense