A Inglaterra, um império que se manteve até o final da II Guerra Mundial e que ainda hoje se orgulha do commonwealth, a Comunidade Britânica Internacional, foi o país que mais sofreu durante a II Guerra Mundial. O Brasil, que nunca se viu em guerra de dimensões nacionais, capaz de abalar a paz e tranquilidade dos seus habitantes, recebeu esta semana a visita do herdeiro da coroa, o Príncipe Charles, e sua esposa, a Duquesa da Cornualha.
Príncipe e Duquesa incluíram um item obrigatório em sua agenda: o contato direto com o público amazonense. Queriam se aproximar e tocar no povo, numa incrível controvérsia em relação ao conhecido comportamento anglo-saxão, seja na Inglaterra, Estados Unidos ou qualquer outro país fortemente colonizado pelos ingleses – um povo refratário a esse jeito brasileiro, que alguns deles chamam repetidamente de "pegajoso".
O contato direto não foi, porém, mais que a expressão de uma das qualidades históricas desse povo, o pragmatismo. Winston Churchill, quando insistiu, numa solitária Inglaterra, em combater um Hitler que parecia irresistível, cortejou sabiamente a antiga colônia norte-americana. Depois, abriu mão da condição de império ultramarino. E, quando cunhou a expressão "cortina de ferro", cedeu o comando do Leste Europeu à força do Exército Vermelho de Joseph Stálin.
É claro que se deixar tocar pelos amazonenses é uma concessão sem a dimensão histórica dos fatos relacionados no parágrafo anterior. Mas revela a importância que essa potência mundial empresta ao Brasil e à Amazônia. Foi uma honra especial que o Amazonas tenha sido escolhido para representá-los neste momento simbólico.
Mas voltemos ao início deste artigo: a Inglaterra foi o país mais afetado pelo bombardeio alemão, durante a II Guerra Mundial. Como escrevi no artigo anterior, somente 30% das residências de Londres estavam habitáveis após o 5 de maio de 1945. A capital inglesa, no entanto, é hoje um exemplo de transporte público (metrô e ônibus, especialmente) e de infra-estrutura urbana.
O Amazonas precisa construir a grande virada. Não existe mais o Estado miserável, pré-industrial e tacanho a ponto de não conseguir explorar as riquezas naturais, com o qual nossa geração cresceu. Estão aí o Pólo Industrial de Manaus, a Província Gaso-Petrolífera de Urucu, a cassiterita de Presidente Figueiredo, a silvinita de Nova Olinda, Itacoatiara e Silves, além do orçamento anual de R$ 7 bilhões, para provar isso.
Tomara que a passagem de Charles e Camila por Manaus nos transmita a ousadia e o espírito público necessários para a construção de um desenvolvimento estadual harmônico, completo.
Sonho em um dia transformar as cidades amazonenses mais distantes de Manaus, perdidas entre selva e rios, em recantos requisitados pelo turismo internacional de charme. Algo assim como Arembepe e Trancoso (BA), Porto de Galinha (PE), Búzios e Angra dos Reis (RJ) ou até Ibiza, na Espanha. Eram locais ermos e inacessíveis, mas tornaram-se "point" do jet set mundial. Por que não fazer algo assim em Novo Airão? E Presidente Figueiredo? E São Gabriel da Cachoeira? E Barcelos? E Parintins? E as outras cidadezinhas, hoje praticamente abandonadas?
Turismo é segurança, transporte, hospital, gastronomia e alegria. Charles e Camila sucumbiram à nossa alegria. Construamos o resto. Nós podemos.
16 de março de 2009
segunda-feira, março 16, 2009
Charles entre nós
Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas