Sou fascinada pela paisagem espetacular dos igarapés e lagos que se vêem, subindo o rio Negro, nos arredores de Manaus. É um dos mais belos playgrounds do mundo e com a vantagem de ser despoluído em quase 100% da área. Nem Walt Disney, com a mente visionária e o espírito empreendedor que o tornaram famoso e bilionário, conseguiria realizar algo com essa magnitude e beleza… Mas a massa da população manauara continua sem acesso a tal tesouro.
Faço parte dos saudosistas que lamentam o fim dos balneários do Parque 10, da Ponte da Bolívia e das cachoeiras alta e baixa do Tarumã. Quero, por isso mesmo, fazer algo para estruturar os arredores de Manaus antes que a avalanche do crescimento urbano se instale e polua tudo.
Multidões são terríveis. Os ecologistas já sabem que o acúmulo de pessoas acaba gerando resíduos acima da capacidade da natureza de processá-los e é isso que provoca a poluição, a degradação ambiental.
As belíssimas praias do rio Negro – Tupé, Matelo, Furo da Luzia, Praia Grande, Açutuba etc. – precisam de estruturação exemplar para evitar que um dia a poluição chegue até lá. Não podemos permitir que empreendimentos comerciais, como aconteceu com os bares da Ponta Negra, se tornem poluidores da água e da areia. Isso não atende sequer aos interesses dos permissionários.
Mais que a preservação de um ambiente local, nós precisamos estruturar essas praias, lagos e igarapés porque se trata de um patrimônio da humanidade, algo que a natureza nos ofereceu para proteger e pelo qual seremos cobrados no futuro.
Quem não se sente orgulhoso ao levar um convidado para passear de barco no rio Negro? E não precisa nem de iates ou lanchas luxuosas porque o maior movimento é na Marina do David, próximo ao Tropical Hotel, onde existem canoas com motor de popa para frete e sempre disponíveis. Por que não cuidar? Por que não colocar a infraestrutura na frente da massa?
Sonho com o dia em que, nos fins de semana ensolarados do verão, o rio Negro se abrirá para a população carente de Manaus, com barcos limpos, padronizados, seguros, suficientemente velozes e, sobretudo, com um sistema eficiente de atendimento emergencial de salva-vidas, saúde e segurança, além de bares e restaurantes que ofereçam qualidade e higiene.
É por aí que se constrói um “parque industrial” novo. Esses bares, restaurantes e barcos gerariam, de imediato, milhares de empregos. O comércio ganharia fôlego, com o giro de combustível, produtos alimentícios e bebidas provocado pelo novo mercado consumidor. O verão se tornaria um produto valioso e ansiosamente esperado.
Precisamos organizar esse filão ou então vamos assistir à avalanche de depredação que levou embora nossos balneários, deixando mau cheiro, sujeira e saudades, muitas saudades.
Claro que Manaus precisa resolver problemas básicos, como transporte coletivo, abastecimento de água, moradia e manutenção das ruas, mas, ao mesmo tempo, precisa planejar o futuro. Chega de a cidade correr atrás das invasões, como um cachorro correndo atrás do próprio rabo.
Convido quem não conhece a conhecer essa beleza. E os donos desse patrimônio natural, os manauaras, a não desperdiçá-lo ou entregá-lo à própria sorte, aceitando a degradação como inevitável.
Rebecca Garcia
29 de julho de 2011
sexta-feira, julho 29, 2011