A Folha de S.Paulo publica duas importantes notícias ambientais que têm um mesmo enredo : as alterações geoclimáticas e a preocupação com quem a humanidade deve ter sobre suas ações.
Carbono a mais no ar mata, diz pesquisa
Da Folha de S.Paulo
O governo da Califórnia acaba de ganhar um trunfo na sua luta judicial contra a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês). Um estudo feito na Universidade Stanford conseguiu isolar o dióxido de carbono atmosférico dos demais poluentes e ligá-lo de forma direta com mais mortes no mundo.
Na última quarta-feira, o governo de Arnold Schwarzenegger entrou na Justiça contra a EPA. O órgão bloqueou no mês passado a nova legislação californiana que criou padrões rigorosos de emissão de poluentes para o setor de transportes.
A justificativa usada pelo órgão federal --que havia décadas não impugnava uma decisão estadual-- era a de que não havia indícios técnicos de que a poluição estava realmente piorando a saúde das pessoas.
Porém, o estudo que será publicado na revista "Geophysical Research Letters" diz exatamente o contrário.
"Isso [mais carbono e mais mortes] é uma relação de causa e efeito e não é apenas uma correlação" afirma Mark Jacobson, o principal autor do trabalho. O modelo matemático desenvolvido por ele mostra como o dióxido de carbono aumenta a temperatura global e provoca, a cada grau que o termômetro sobe, mais mortes.
Esse processo, segundo Jacobson, estaria causando a morte de 20 mil pessoas em todo o mundo por ano. "Essa pesquisa tem uma implicação particular para a Califórnia, Estado que tem seis cidades entre as dez mais poluídas dos Estados Unidos", afirma o pesquisador.
Para o cientista, essa situação peculiar --muita poluição-- justifica o fato de a Califórnia ter uma política específica, e mais agressiva, para tentar reverter o problema.
"No total, 30% de cada mil mortes adicionais que ocorrem nos EUA por causa do aumento de 1ºC devido ao carbono serão registradas na Califórnia, que tem 12% da população americana", calcula Jacobson.
Para ele, não há dúvida de que a maior emissão de carbono é a grande vilã no aumento do número de casos de pessoas que morrem por problemas respiratórios ou cardíacos.
No modelo feito em Stanford, vários fatores foram incorporados. Desde o transporte dos gases e das partículas em suspensão na atmosfera até os efeitos do vento, da chuva, do calor e das nuvens. Os processos oceânicos também entraram na conta.
"O mais lógico, em termos de próximo passo, é reduzir o dióxido de carbono na atmosfera."
Árvores "absorvem menos CO2" em altas temperaturas
Da BBC Brasil
Um estudo conduzido por uma equipe de cientistas de vários países mostrou que as árvores estão absorvendo menos gás carbônico no Hemisfério Norte à medida que as temperaturas aumentam.
Os cientistas explicam que com o aquecimento global, nas últimas duas décadas a primavera tem chegado mais cedo e o inverno começado mais tarde no Hemisfério Norte, aumentando o tempo em que as árvores retêm suas folhas.
Em tese, afirmam os especialistas, isso favoreceria a absorção de CO2 e a liberação de oxigênio na atmosfera. Mas o estudo, publicado na revista "Nature", mostrou que, na prática, isso não está ocorrendo.
Os cientistas analisaram imagens de satélites armazenadas durante 20 anos em estações de monitoramento na Sibéria, Alasca, Canadá e Europa. Eles observaram que a respiração das plantas, durante a qual emitem gás carbônico, aumentou mais do que a fotossíntese, processo em que os vegetais capturam CO2 da atmosfera para transformar em oxigênio.
Equilíbrio
O estudo conclui que se o aumento das temperaturas --que nessas regiões foi de até 1,1°C em duas décadas-- significa uma menor absorção de CO2 pelas plantas, então a maior emissão de gás carbônico pode contribuir para elevar ainda mais os termômetros.
"A informação que tínhamos dos satélites, de que a área verde estava se mantendo por mais tempo, era um sinal positivo", disse Anders Lindroth, da Universidade de Lund, na Suécia, um dos pesquisadores envolvidos no estudo.
"Era a esperança de que isso ajudaria a diminuir os efeitos provocados pelas crescentes emissões de carbono. Mas mesmo com a área verde, isso não significou um efeito positivo no equilíbrio da quantidade de carbono", afirmou.
Para o coordenador da pesquisa, Timo Vesala, da Universidade de Helsinque, na Finlândia, "de fato isso representa um grande potencial para que o aquecimento continue aumentando".
Na avaliação dos cientistas, os resultados são cruciais porque sugerem que as altas emissões de gases provocadas pelo homem vão acabar afetando o clima da atmosfera em vez de serem absorvidas de forma segura pelas árvores e pelo solo.
"Nós atualmente estamos tendo um desconto de 50% no impacto climático provocado pelas emissões de gases", disse o cientista climático John Miller num comentário à pesquisa, esclarecendo que metade das emissões de carbono são capturadas pelos oceanos e ecossistemas terrestres.
"Mas infelizmente não temos garantia de que esses 50% de desconto vão continuar, e se isso acontecer, vamos sentir os efeitos que as emissões de CO2 vão provocar no clima".