Na madrugada deste domingo (04/05), a embarcação denominada Comandante Sales naufragou no Rio Solimões (Amazonas), próximo ao Município de Manacapuru, à 84 km de Manaus. Até o momento, estão confirmadas 15 mortes e 40 pessoas, aproximadamente, ainda estão desaparecidas. O número não é exato, porque, de acordo com a Capitania Fluvial da Amazônia, a embarcação estava irregular, não sendo inscrita na Capitania dos Portos, e por isso sem autorização para navegação.
Segundo a Marinha, cerca de 80 pessoas estavam à bordo, entre passageiros e tripulantes. Todos saíram da comunidade Lago do Pesqueiro, onde participaram de uma festa religiosa na noite de sábado, com destino a Manacapuru. Possivelmente, segundo a Marinha, a forte chuva provocou o desequilíbrio da embarcação e fez com que ela virasse.
Diante do fato, encaminhei ao Presidente da Câmara dos Deputados um Voto de Pesar pelas vítimas do acidente prestando solidariedade e condolências às famílias. Encaminhei também um requerimento ao Ministro da Defesa, Nelson Jobim, solicitando informações sobre o número de acidentes fluviais na Região Norte do país, quais são as causas comuns, o que pode ser feito para aumentar a fiscalização e evitar embarcações irregulares e quais medidas podem ser tomadas para tornar mais seguro o transporte fluvial.
Além disso, solicitei ao Poder Executivo, requerimento de indicação para cobrar o encaminhamento das medidas levantadas na Audiência Pública, ocorrida em março, na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional.
Confira a íntegra da matéria publicada no jornal Correio Braziliense sobre o acidente:
"Mais uma tragédia nos rios da Região Norte ocorreu na madrugada deste domingo, por volta das 5h da manhã. A embarcação Comandante Sales naufragou nas águas do Rio Solimões, perto da comunidade de Laranjal, em Manacapuru (AM), que fica a cerca de 84km da capital Manaus. Os dados divulgados inicialmente pelo Corpo de Bombeiros da cidade informam que pelo menos 15 pessoas morreram no acidente, mas a previsão até o fechamento desta edição era de que esse número crescesse. Calcula-se que 40 pessoas estão desaparecidas.
Segundo os bombeiros, há suspeitas de que havia cerca de 150 pessoas na embarcação, que só tem capacidade para 80 passageiros. Uma equipe de 15 mergulhadores passou o dia inteiro procurando outras vítimas. Dois barcos eram usados para impedir que o Comandante Sales afundasse completamente. Uma outra embarcação transportava os corpos daqueles que não resistiram à tragédia para o Porto de Manacapuru. A Capitania dos Portos enviou ainda o navio-patrulha Amapá para o local do acidente, onde chegou no começo da noite de ontem. Um helicóptero da Marinha também participa das buscas, que devem continuar hoje. Perto de 40 homens foram enviados ao local para participarem do resgate.
O que alguns sobreviventes contam é que um grupo de pessoas havia fretado o barco para participar de uma tradicional festa na localidade de Lago Pesqueiro. Na volta da comemoração, chovia forte. O vigia Francimar Evangelista Pereira, 26 anos, diz que sentiu o barco bater em alguma coisa antes de virar repentinamente, jogando muitas pessoas no rio. "O barco tombou bruscamente. O fundo foi para cima. Quem estava em rede, dormindo, não teve como escapar", contou.
Segundo a Marinha, cerca de 5 milhões de pessoas usam transporte fluvial, por mês, na Amazônia. Os acidentes nos rios da região são freqüentes. Também é comum que os responsáveis pelos barcos não tenham controle sobre a quantidade de pessoas que estão a bordo. Na tragédia de ontem, não foi diferente: não havia uma lista com os nomes daqueles que estavam a bordo.
Nota - A tripulação do Comandante Sales, de propriedade de Francisco Alves Sales, era formada principalmente por jovens. Segundo depoimentos, o comandante da embarcação, sua mulher e um filho do casal estavam no camarote do barco no momento do acidente. No meio da tarde, o Comando do 9º Distrito Naval da Marinha divulgou uma nota afirmando que a embarcação não possuía inscrição na Capitania dos Portos e que, portanto, era irregular.
Segundo a Marinha, uma equipe de inspeção abordou a embarcação em 19 de janeiro, em Manacapuru. Como o barco não tinha a documentação exigida e estava navegando sem tripulação habilitada, foi apreendido. No entanto, na madrugada de ontem, o Comandante Sales naufragou no Rio Solimões, matando pelo menos 15 pessoas.
"Naturalmente, esta embarcação não deveria estar em operação na ocasião do acidente, por estar apreendida. Na ocasião, conforme preconiza uma Norma da Autoridade Marítima, o proprietário foi instado a comparecer à Capitania dos Portos em Manaus, a fim de apresentar sua defesa prévia e a documentação necessária para regularizar a situação da referida embarcação, o que não ocorreu até a presente data", diz a nota do Comando. Um inquérito administrativo será instaurado pela Marinha para apurar o acidente.
Desespero e fé em Deus
"Foi Deus." Essa é a explicação que o vigia Francimar Evangelista Pereira encontra para o fato de ter sobrevivido ao naufrágio do Comandante Sales. Segundo ele, o acidente pegou todos desprevenidos. Muitos dormiam em redes e grande parte dos passageiros estava embriagada, pois voltavam de uma festa. "É como se um carro encontrasse com outro, em alta velocidade, batesse e capotasse. Ele bateu e ‘capotou’", disse.
Segundo Pereira, só conseguiu sobreviver ao naufrágio quem foi lançado para fora do barco, antes do tombo. "O barco virou de uma vez e afundei. Até chegar à superfície, tive que nadar uns três metros. Ninguém teve tempo de nada. Ninguém viu ninguém. A água é muito barrenta. Estava escuro. Quando o barco bateu, ouvi gritos. Depois, não ouvi mais nada."
Depois de chegar à superfície do Rio Solimões, o vigia disse que nadou de volta para a embarcação, que estava com o fundo para cima. Segundo ele, "umas 70 pessoas conseguiram se salvar". "O resto foi pro fundo", contou.
Barcos e lanchas que retornavam da mesma festa em que os passageiros do Comandante Sales estavam conseguiram resgatar algumas pessoas. "Isso não vai apagar da minha mente tão cedo", comentou Pereira. "Uma amiga que estava do meu lado não consegui sobreviver."
Acidentes fluviais são constantes
A navegação nos rios costuma ser muito insegura no país. Segundo a Diretoria de Portos e Costa, órgão ligado ao Ministério da Marinha, no ano passado ocorreram 123 acidentes com vítimas nas águas brasileiras. O número preocupa principalmente porque os rios são a principal via de transporte para muitas comunidades da Região Norte. As principais causas dos acidentes costumam ser colisão com outra embarcação ou número excessivo de passageiros a bordo, como pode ter ocorrido no acidente de ontem, no Amazonas.
O tráfego intenso e a falta de sinalização nos rios são outros fatores que contribuem para a insegurança. Segundo dados da Marinha, cerca de 120 mil barcos navegam na região, número muito grande para que uma fiscalização eficaz seja feita.
Em março, a Comissão da Amazônia, Integração Nacional e Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados realizou audiência pública para debater a segurança das viagens de barco no país. Na ocasião, algumas medidas que poderiam tornar esse tipo de transporte mais seguro foram levantadas, como aumentar o número de fiscais e fazer com que as embarcações de madeira sejam trocadas por barcos de ferro. Nesse caso, as empresas que administram as embarcações precisariam de uma linha de crédito específica para as substituições.
Fevereiro - A audiência na Câmara foi resultado de outro acidente que ocorreu na Região Norte este ano. Em 21 de fevereiro, a embarcação Almirante Monteiro, que levava pouco mais de 100 pessoas, bateu em uma balsa de ferro no Rio Amazonas, perto do município de Alenquer, no Pará. O desastre ocorreu de noite e, na ocasião, 16 pessoas morreram. Os trabalhos de resgate duraram dias, pois o Corpo de Bombeiros teve dificuldade de calcular quantas pessoas estavam desaparecidas, uma vez que o comandante não possuía uma lista com os nomes dos passageiros.
Semanas depois, em 9 de março, uma chalana com 22 passageiros afundou no Rio Cuiabá, no Pantanal mato-grossense, depois de apresentar um problema na casa de máquinas. Por causa do acidente, 9 pessoas morreram, sendo que algumas só foram encontradas dias depois do naufrágio.
5 de maio de 2008
segunda-feira, maio 05, 2008