3 de junho de 2008

Em um mês, área desmatada na Amazônia equivale à cidade do Rio

Dados do Inpe mostram que acumulado em 9 meses é 15% maior que em 1 ano; MT tem 71% do devastado em abril

O desmatamento acumulado dos últimos nove meses na Amazônia já superou em 15% o acumulado de 12 meses do ano anterior. Foram 5.850 km2 derrubados entre agosto de 2007 e abril de 2008, comparado a 4.974 km2, entre agosto de 2006 e julho de 2007 - período pelo qual se calcula a taxa anual de destruição da floresta.

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- Só no mês de abril, o programa de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) identificou 1.123 km2 de desmatamento - área equivalente à cidade do Rio, com 1.182 km2. Em março, o sistema havia detectado só 145 km2 de floresta cortada ou degradada. A diferença deve-se em grande parte à menor cobertura de nuvens em abril (53%) do que em março (78%), o que permitiu que o satélite “enxergasse” muitas áreas que já estavam desmatadas, porém escondidas sob as nuvens.

Os números, divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), confirmam a tendência de aumento da devastação registrada desde o fim de 2007, após três anos consecutivos de queda. Os cálculos foram feitos com base em imagens de satélite do Deter, que identifica áreas desmatadas ou com floresta em estágio avançado de degradação acima de 25 hectares. O Inpe não tem como determinar em que mês uma área foi desmatada, apenas o momento em que o corte foi detectado.

“Não podemos dizer que houve aumento de março para abril, porque as condições de detecção foram diferentes. O que podemos dizer é que há um processo de degradação crescente e isso nos preocupa muito”, disse o diretor do Inpe, Gilberto Câmara.

“Isso significa que as medidas aplicadas pelo governo, apesar de duras, ainda não foram suficientes para frear o desmatamento”, avaliou Adalberto Veríssimo, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), organização que também monitora o desmatamento na região.

O calendário anual de monitoramento termina em 31 de julho, o que deixa menos de dois meses para que o governo consiga reverter essa alta. Além disso, a tendência é que a pressão aumente daqui para a frente, a medida que a diminuição das chuvas facilita o acesso ao interior da floresta, e que a redução das nuvens escancara o desmatamento dos meses anteriores.

O Estado com a maior área desmatada em abril foi Mato Grosso, com 794 km2. Em abril, apenas 14% do Estado estava coberto por nuvens, comparado a 69% em março. Roraima aparece em segundo lugar, com 284 km2 desmatados e só 18% de cobertura de nuvens em abril. Rondônia, que esteve 95% visível para o satélite, desmatou 34 km2. Já o Pará, onde o desmatamento costuma ser alto, ficou quase que totalmente encoberto durante os dois meses. Por isso, aparece com apenas 1,9 km2 desmatado em março e 1,3 km2, em abril.

Cerca de 17% da Amazônia já foi desmatada nos últimos 20 anos - 4 milhões de km2, área equivalente aos territórios de Minas Gerais, Rio e Espírito Santo. Na média, segundo Câmara, isso equivale a um campo de futebol destruído a cada 10 segundos.

“Colhe-se o que se plantou”, disse o diretor da organização Amigos da Terra, Roberto Smeraldi. “Você aumenta a exportação de ferro-gusa com carvão de floresta nativa, triplica os frigoríficos, titula ocupações de até 1.500 hectares, licencia obras ilegais e ainda não cobra as multas: depois espera o quê? Considerando que só há dados sobre Mato Grosso e Roraima, a tendência é de termos um ano entre os piores, voltando à casa dos 20 mil km2 (desmatados por ano).” Em 2006-2007, o desmatamento foi de 11.224 km2 segundo o Prodes, programa que calcula a área total de corte raso, incluindo áreas menores do que 25 hectares, não vista pelo Deter.

Fonte: O Estado de S.Paulo