No momento em que o mundo comemora a eleição de Barack Obama como primeiro negro a assumir a presidência dos Estados Unidos, quero destacar a importância do processo de renovação na política que se desenha no cenário mundial. É sinal dos tempos, de um mundo de tolerância, diálogo, convivência e respeito multirracial.
O Brasil, particularmente, tem muito a contribuir neste momento em que se descortina um novo tempo. País formado por um caldeirão étnico, racial e cultural, o Brasil experimentou nas eleições deste ano vitórias que nos enchem de orgulho e de esperança num futuro marcado pela expressiva participação das chamadas minorias. No meu Estado, o Amazonas, onde a história nos deixou como legado o governo nomeado de Eduardo Ribeiro, negro responsável por obras que até hoje se impõem como marcos de nossa capital, Manaus, como o majestoso Teatro Amazonas, podemos ver e nos orgulhar de um processo vindo das massas como redentor de um período marcado pela opressão, discriminação, racismo e segregação.
Para os índios que, ao longo da história, foram vítimas de perseguição, genocídio e barbárie, emergir das urnas com inquestionável vitória para cargos majoritários no Amazonas, mais do que um resgate, é a certeza de que se começa a fazer justiça a um povo condenado secularmente a lutar pela sobrevivência.
Em São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Estado, tive a oportunidade de participar da campanha de Pedro Garcia, do PT, da etnia Tariano, que se transformou no primeiro indígena eleito para comandar um município no Amazonas. Nada mais justo, uma vez que São Gabriel é, de acordo com o IBGE, o município mais indígena do Brasil.
Em Barreirinha, município onde vivem sete mil índios Saterê Mawé, o indígena Mecias Saterê foi eleito prefeito num processo semelhante. Naquela região, no baixo Amazonas, existem 46 comunidades indígenas. São dados que não deixam dúvidas quanto à representatividade dos prefeitos eleitos tanto em São Gabriel da Cachoeira quanto em Barreirinha. É o grito de um povo em busca de seu espaço na sociedade contemporânea.
As conquistas da mulher na política também refletem este momento. De acordo com o TSE, 498 mulheres foram eleitas prefeitas de seus municípios no primeiro turno das eleições. Precisamos ressaltar que se trata ainda de um processo incipiente, uma vez que isso representa pouco mais de 9% dos prefeitos eleitos no País, porém sem volta, irreversível.
Para o sociólogo italiano Domenico De Masi, o futuro é das mulheres. Para todos nós, que vivemos estes tempos de transformações e conquistas, diria que o futuro é multirracial. É nesse avanço pavimentado pela igualdade entre povos e raças que o ser humano vai afirmar seus valores e sua inteligência.
15 de novembro de 2008
sábado, novembro 15, 2008
Vitória multirracial
Rebecca Garcia