2 de fevereiro de 2009

Artigo: A crise e a modernização industrial

A indústria demite. O Governo e os sindicatos resistem. Essa queda de braço vai marcar os próximos meses porque todos sabem que o empresariado sempre reage assim, diante do temor de dias piores. Há um viés, porém, que precisa ser analisado: como o setor industrial brasileiro emergirá no amanhã?

É conhecido o avanço da mecanização – o termo “informatização” talvez seja mais apropriado, dado o componente da robotização nesse processo – nas indústrias. Uma máquina, geralmente computadorizada, consegue fazer o trabalho de dezenas, centenas de operários, com precisão milimétrica. Aumenta a qualidade, robustece a produtividade ao máximo e diminui custos, devorando estatísticas.

O Brasil espera que as lideranças empresariais estejam atentas às demissões. Seria perverso se os costumeiros aproveitadores usassem esse momento para demitir além da necessidade, buscando espaço para o avanço da mecanização do trabalho no chão de fábrica. Temo que se desperte, em contraposição a essa prática, típica do mais antiquado capitalismo selvagem, o sindicalismo radical.

Criar-se-ia o terreno ideal para a reprodução do sindicalista populista e demagogo que, com um mínimo de carisma, logo se torna grande líder e arrasta as massas para danosas paralisações. O Pólo Industrial de Manaus (PIM) está cheio de lições desse tipo. Infelizmente, o Presidente Lula é um “case”, um exemplo de liderança que se firmou e ganhou o respeito nacional, mas são poucos os que galgaram essa estatura.

Concordo com o que disse, semanas atrás, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Incentivo público, isenção ou redução de impostos, têm sim que ter contrapartida social. O dinheiro, afinal, é do contribuinte. É ele que renuncia e não pode ser o mesmo, ao fim e ao cabo, apenado com a perda do emprego.

Economia funciona ciclicamente. O empregado recebe o salário e vai ao comércio, que compra da indústria, por sua vez encarregada de abastecer as lojas e daí retirar o dinheiro para pagar o trabalhador e renovar o ciclo. O desemprego quebra essa lógica e traz, para todos, outros fantasmas muito mais ameaçadores, como violência, invasões e marginalidade em geral. Esse cenário não é bom para ninguém.

O Brasil precisa emergir da crise melhor. Não pode estolar, perder o controle, desmoronar. Vigilância e prudência, para todos. É na dificuldade que está o caminho para o desenvolvimento, pressuposto de dias melhores para nosso povo.

Fim do recesso - Volto ao Congresso Nacional muito preocupada com o cenário de crise. Espero que deputados e senadores estejam compenetrados do espírito de trabalho do ano, quando não teremos eleição. Claro que todos estarão na expectativa de um 2010 difícil, quando os mandatos da Câmara Federal e da maioria do Senado – duas vagas por Estado – estarão em jogo. Nada pode impedir a análise dos dados fornecidos pelo Governo Federal e que nos permitirão votar, com lúcida rapidez, as medidas prescritas para vencer o momento atual.

Arregacemos as mangas. Vamos à luta.


Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas