Agradeço por todos os convites que recebi, relativos às comemorações do Dia Internacional da Mulher. Irei a todos os eventos, mesmo os com datas e horários conflitantes, ainda que seja para o registro de minha solidariedade à luta que tantas instituições e pessoas realizam pela afirmação de gênero.
Parabéns à mulher. A luta, porém, não pode parar ou se transformar numa festa, como pretendem os oportunistas que confundem a causa feminina com evento anual de uma semana.
Foi preciso muita mobilização e estruturação de instituições associativas e políticas para que chegássemos à Lei Maria da Penha, com seus preciosos instrumentos de combate à violência doméstica, casos da Delegacia da Mulher, do Juizado da Mulher e da Casa Abrigo.
São conquistas preciosas, mas, durante esta semana – para nós mais de reflexão que de comemoração – é importante lembrarmos a importância da utilização eficiente desses instrumentos.
Dois amigos compraram um mesmo tipo de computador, com a mesmíssima configuração, o maior HD, máximo de memória Ram e processador mais moderno. Tudo de primeira. Um deles entrou para o ramo da publicidade e enriqueceu, graças à utilização correta da tecnologia de ponta. O outro deixou o equipamento recebendo poeira no escritório de casa, utilizando-o apenas para escrever alguns textos, o que pode ser feito em qualquer computador bem mais modesto.
A Lei Maria da Penha nos oferece instrumento poderoso, moderno, com tudo para se tornar eficiente. Se não a utilizarmos correta e intensamente, no entanto, ela não atingirá o potencial máximo no combate à violência doméstica.
Muitas mulheres hesitam em denunciar quando são agredidas, mesmo quando a agressão se dá repetidas vezes. Uso “agressão” aqui no sentido bem genérico e de forma nenhuma restrito à violência física. Não! A cidadã brasileira é agredida quando leva o filho a um posto médico e o médico ou o medicamento não estão lá; quando paga um plano de saúde e este a deixa numa fila imensa, esperando por um atendimento de má qualidade; quando precisa andar pelo meio da rua porque a calçada é irregular, esburacada ou foi ocupada por produtos, carros ou construções; no momento em que perde o emprego devido ao transporte coletivo deficiente.
Essas coisas constituem agressão tão dura quanto um safanão do marido. Neste caso, o agressor está claramente identificado e a denúncia pode ser feita na delegacia mais próxima, com base na Lei Maria da Penha. Nos demais, a sociedade tem instrumentos sim para se defender das agressões do dia-a-dia. Ou usamos corretamente as ferramentas disponíveis no “negócio” da cidadania ou as deixaremos empoeirar, subutilizadas, como o computador do exemplo aqui citado.
Estou impressionada com o resultado da campanha “Fique Sabendo”, do Ministério da Saúde, no Pelourinho, em Salvador (BA), durante este Carnaval. Dos 609 foliões que fizeram o teste rápido de Aids, 14 (2%) descobriram que tinham a doença. É um belo trabalho: técnicos do Ministério vão a grandes eventos e oferecem o teste, com uma pequena picada no dedo e 20 minutos de espera. Resultado positivo é comunicado por funcionários muito bem treinados e a pessoa sai do local para um centro onde será acompanhada e receberá informação e tratamento.
São ferramentas assim que fazem a diferença na vida brasileira, na qual a mulher é agente ativa. Posição que devemos firmar cada vez mais.
Parabéns pela Semana da Mulher. A luta é permanente.
2 de março de 2009
segunda-feira, março 02, 2009
A Semana da Mulher
Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas