24 de agosto de 2009

Enchente e vazante

Acabo de retornar do interior. Percorri a calha do madeira, numa comitiva capitaneada pelo governador Eduardo Braga. Estive lá no auge da enchente e voltei agora, no começo da vazante.
É curioso que a viagem tenha ocorrido justo na semana em que relatei o Projeto de Lei (PL) 4069, obtendo a aprovação de meu relato na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC), da Câmara dos Deputados. Trata-se de PL que propõe a proibição da utilização de dióxido de cloro na produção de papel e celulose no Brasil, sugerindo que seja empregado no branqueamento apenas o processo chlorine free (TCF), com uso de oxigênio, peróxido de hidrogênio e ozônio. Num resumo, o ganho ambiental seria mínimo e a perda industrial enorme.

Por que recordo disso? Para mostrar como a atividade do parlamentar amazônico é curiosa, tratando num momento dos interesses da chamada grande indústria e no outro defrontando-se com a batalha diária pela sobrevivência de nossos irmãos interioranos.

Essa viagem, porém, apesar do quadro de grandes necessidades, confirma minha avaliação de que o Amazonas tem um verdadeiro armazém de utilidades futuras para a humanidade, com destaque para o imenso estoque de terras, floresta e água doce.

O papel de nossa geração é processar a riqueza, repassando ao caboclo o máximo possível da prosperidade que o destino reserva à região.

Muitos lamentarão, à distância, o tamanho das perdas para a enchente, com as várzeas recobertas e a plantação consumida pelas águas. Olhando o manancial que se apresenta diante de nós, o que me salta aos olhos é a possibilidade agrícola oferecida pelo lodo fértil – o húmus –, resultante justamente desse fenômeno, e a pujança econômica que representa.

Vi as obras estruturantes que o Governo do Estado realiza. Espero que não sejam mais um pedaço de um eterno recomeço, uma cena a mais do filme infindável estrelado pelo "gigante adormecido" deitado em berço esplêndido.

O Amazonas precisa avançar, como avança Manaus com obras do porte de uma ponte sobre o rio Negro ou um Prosamim. É preciso alcançar o ponto em que as esperanças do caboclo deixem de se transformar em angústia, diante de um futuro inalcançável.

Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal
Diário do Amazonas