1 de março de 2010

A hora do interior

O Amazonas conseguiu coisas hoje inestimáveis, sob o ponto de vista planetário, sem que houvesse política pública a induzi-las. A preservação da Floresta Amazônica é o exemplo mais acabado disso. Para os Municípios do interior, porém, tal situação representa atraso, subdesenvolvimento, falta de infraestrutura, sofrimento.

Resolver a dicotomia entre desenvolver e preservar o ambiente é o maior desafio dos próximos governantes de nosso Estado.

Uma saída, inicial, é promover, em cada Município, condições para que a produção rural se desenvolva. Sugiro que cada uma das unidades do Estado do Amazonas desenvolva clusters, conglomerados de produção, capazes de garantir o abastecimento das cidades.

A Região Amazônica tem gargalos culturais, no entanto, que atrapalham a qualidade de vida de nossa população.

Falamos muito em “estradas vicinais”. No interior, onde existem várias comunidades isoladas, tendo o rio como única comunicação, uma picada de terra batida se torna imensa conquista. Ano após ano, os políticos utilizam a necessidade gerada por essas interligações como moeda de troca pelo voto: “Fulano ‘melhorou’ nossa ‘estrada’. Vamos votar nele”. É hora de asfaltar e melhorar esses acessos.

Manaus, por outro lado, é cidade carente de infraestrutura. Os esforços do Governo do Estado e da Prefeitura de Manaus, os dois entes públicos que concentram os recursos do Estado, se voltam para esta capital.

O interior, por outro lado, contribui unicamente com o inchaço da população manauara.
Quando é que uma equação como essa vai resultar em qualidade de vida? Quando poderemos fazer algo que represente diferencial, em relação às cidades onde administrações sérias se casem e se construa renda em prol dos seus habitantes?

Jaime Lerner, o administrador mais conhecido de Curitiba, cidade-modelo do Brasil, ensina a fórmula do prefeito ideal: “É preciso gostar da cidade”.

Por mais que um prefeito do interior goste do lugar onde mora, tendo ou não nascido lá, encontrará mil dificuldades para desenvolvê-la. Restará a ajuda externa, o dinheiro do Governo do Estado ou do Governo Federal, para ajudá-lo.

O que vemos hoje é um Estado onde a capital é carente e os Municípios do interior são miseráveis, sobreviventes da dignidade, inteligência e força de vontade do caboclo.

Chegou a hora de mudar.

Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal
Diário do Amazonas