Notícias ambientais da Folha Online:
Ex-dirigentes propõem plano pós-Kyoto por US$ 10 bilhões ao ano
O Clube de Madri e a ONU (Organização das Nações Unidas) vão propor nesta semana ao G8 e ao G20 em Berlim o rascunho de um plano pós-Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões mundiais de CO2 depois de 2012 a um custo mínimo de US$ 10 bilhões anuais.
"Aprovamos um documento completo, um rascunho que pode ser um acordo pós-Kyoto, para ver como podemos avançar depois de 2012", declarou o ex-presidente chileno, Ricardo Lagos, que atualmente preside o citado clube e é enviado especial da ONU para a luta contra o aquecimento global.
O documento será apresentado na terça-feira (11) na capital alemã aos ministros do Meio Ambiente dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia (G8) e o G20, do qual faz parte o Brasil.
O rascunho do plano foi elaborado por ex-chefes de Estado e de governo, como Gro Harlem Brundtland (Noruega), Lionel Jospin (França) e Ernesto Zedillo (México), e líderes empresariais e representantes da sociedade civil de mais de 20 países.
Clima deslocará 200 milhões nos próximos 30 anos
Nos próximos 30 anos, a mudança climática fará com que até 200 milhões de pessoas sejam forçadas a deixar o local onde vivem, alertou uma organização ambiental nesta sexta-feira.
Segundo a ONG, até 2020, os processos de desertificação expulsarão de suas casas 135 milhões de pessoas --60 milhões delas na África.
O alerta foi feito pela Ecologistas em Ação, com sede em Madri, durante um evento paralelo à Cúpula contra a Desertificação, que se realiza na capital espanhola.
Para a ONG, é preciso "revisar urgentemente o conceito jurídico de refugiado para poder ampliá-lo a novas realidades sociais". "A regulamentação do chamado 'refugiado ambiental' é imprescindível para preencher uma lacuna jurídica e proporcionar proteção jurídica ao número cada vez maior de pessoas deslocadas por razões ambientais."
A discussão sobre os chamados refugiados ambientais ocorre dentro da própria ONU (Organização das Nações Unidas), que hoje define como refugiados somente aqueles que são forçados a deixar suas casas por causa de distúrbios políticos ou sociais.
Mas a própria entidade reconhece que cada vez mais pessoas são deslocadas por problemas ambientais, como o esgotamento do solo e a desertificação, ou por efeitos desses processos, como enchentes e outros desastres naturais.
A organização Ecologistas em Ação criticou nações que reforçam suas fronteiras nacionais contra a imigração, adotando o que considera "políticas migratórias que violam sistematicamente os direitos humanos e descumprem a Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados".
Para a entidade, governos e empresas devem conter a exploração indiscriminada de recursos naturais dos países pobres, que gerariam a perda de florestas, a degradação dos bosques nativos e a mudança no curso dos rios.
Brasil subestima mercado de carbono, diz empresário pioneiro
O fluxo de dinheiro que vai correr no mercado de créditos de carbono neste ano é de US$ 1 bilhão. Esse valor corresponde a um décimo do potencial do negócio, que vai começar a esquentar mesmo em 2008.
Mas o Brasil está perdendo fatias cada vez maiores desse bolo para os suspeitos de sempre --China e Índia--, na avaliação de um dos principais empresários do setor, o engenheiro agrônomo Pedro Moura da Costa.
"Não existe um empenho tão grande em fomentar esse setor. Tem de haver um dinamismo maior no governo brasileiro", avalia Moura da Costa. Carioca de 43 anos, há ele dez criou a EcoSecurities, empresa sediada em Londres que fez a intermediação e a consultoria de quase 20% dos contratos em curso (422 no total) no mercado de carbono oficial.
Conforme prevê o Protocolo de Kyoto, o acordo internacional contra as emissões de gases de efeito estufa, o mercado mundial de carbono gira em torno de papéis que são emitidos por projetos que reduzam a emissão de gás carbônico ou outros gases que esquentam o planeta.
Pode ser um aterro sanitário, que evite emissão de metano, ou uma usina de álcool, que corte emissões de CO2. Esses papéis, provenientes de nações ricas ou pobres, são comprados por países ricos que têm metas de redução de emissões a cumprir por Kyoto.
"O Brasil já teve uma participação maior na nossa carteira. Há dois anos, ele representava 30% dos nossos negócios. Hoje, essa participação caiu para 12%", explica Moura da Costa.
Radicado em Londres, o empresário se formou pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro antes de ir para a Malásia, onde a idéia de abrir a empresa surgiu. Se todos os certificados comercializados pela empresa (hoje presente em 27 países) fossem pagos ao mesmo tempo, isso renderia o total de 1,7 bilhão.
Uma das razões da queda do desempenho brasileiro, diz, é a atitude do governo. Como todo projeto de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) --que gera os créditos de carbono-- tem de ser aprovado na esfera governamental, o funcionamento dessa engrenagem passa a ser fundamental para todo o sistema.
"No Brasil, o processo é muito moroso, burocrático e, às vezes, você tem a impressão de que não há interesse por parte do país em fomentar essa atividade e atrair divisas por meio da emissão de créditos. Gradativamente, o Brasil perde espaço para países como China e Índia, que estão muito mais empenhados em usar esse mecanismo", disse Moura da Costa à Folha. Leia a entrevista.
Folha - Apesar de serem negociados desde 2005, os créditos de carbono ainda não estão gerando um fluxo grande de dinheiro. Quando isso vai ocorrer?
PEDRO MOURA DA COSTA - Esses contratos funcionam como se fossem os de eletricidade. A primeira coisa que o empreendedor procura é quem vai comprar a energia, por qual preço e período. Você pode fazer a entrega e também o pagamento no futuro. Os créditos estão sendo obtidos desde 2005. Já no ano que vem, um grande volume de recursos vai ser efetivamente transferido. É um mercado de US$ 10 bilhões por ano, o que equivale a 1 bilhão de toneladas de carbono aproximadamente, levando em conta o preço de US$ 10 a tonelada.
Folha - O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo já está totalmente azeitado? A forma de como fazer esses contratos já é um consenso?
MOURA DA COSTA - A parte contratual, o desenvolvimento dos projetos e as questões financeira e legal estão azeitadas. Mas a administração do MDL por parte da ONU (Organização das Nações Unidas) continua a desejar. É tudo muito burocrático. A junta executiva da instituição é composta por servidores públicos que trabalham em tempo parcial nesse tema. Basicamente, eles deliberam sobre um mercado de bilhões de dólares por ano, mas sem o profissionalismo necessário.
FOLHA - Mesmo que as engrenagens funcionem a todo vapor, o mercado e o Protocolo de Kyoto vão conseguir resolver sozinhos a questão do aquecimento global?
MOURA DA COSTA - Isso é um outro aspecto. As metas de Kyoto são incipientes para controlar o [aquecimento do] clima. Definitivamente, Kyoto não vai resolver o problema. Mas, na época, Kyoto foi importante, é o que se conseguiu negociar. Agora precisa ser criada uma consciência global de que os objetivos precisam ser muito mais ambiciosos.
FOLHA - Quer dizer que agora as atenções precisam ser centradas no pós-Kyoto?
MOURA DA COSTA - Não gosto do termo pós-Kyoto. É melhor falar no segundo período do protocolo. Agora, como será essa nova etapa, qual vai ser o comprometimento de todo mundo, vai depender do sucesso ou não da primeira fase. É muito importante que todos nós façamos essa fase inicial andar bem, com o MDL no centro de tudo isso, para que os grupos políticos possam adotar metas mais ambiciosas no futuro.
FOLHA - Nessa segunda fase de Kyoto, o Brasil deveria adotar metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa?
MOURA DA COSTA - Mais cedo ou mais tarde vai haver a necessidade de um engajamento mais amplo. Hoje, o mundo está dividido nos países industrializados e em industrialização, esses não precisam reduzir suas emissões. Tudo bem, numa fase inicial, apenas os primeiros tiveram obrigações, mas o problema é que as emissões de países como o Brasil e a Índia estão crescendo muito. É inevitável que esses países sejam forçados a controlar suas emissões também. Isso será uma evolução normal e ética, assim como também foi ético o Brasil não ter metas nessa primeira fase.
O Clube de Madri e a ONU (Organização das Nações Unidas) vão propor nesta semana ao G8 e ao G20 em Berlim o rascunho de um plano pós-Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões mundiais de CO2 depois de 2012 a um custo mínimo de US$ 10 bilhões anuais.
"Aprovamos um documento completo, um rascunho que pode ser um acordo pós-Kyoto, para ver como podemos avançar depois de 2012", declarou o ex-presidente chileno, Ricardo Lagos, que atualmente preside o citado clube e é enviado especial da ONU para a luta contra o aquecimento global.
O documento será apresentado na terça-feira (11) na capital alemã aos ministros do Meio Ambiente dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia (G8) e o G20, do qual faz parte o Brasil.
O rascunho do plano foi elaborado por ex-chefes de Estado e de governo, como Gro Harlem Brundtland (Noruega), Lionel Jospin (França) e Ernesto Zedillo (México), e líderes empresariais e representantes da sociedade civil de mais de 20 países.
Clima deslocará 200 milhões nos próximos 30 anos
Nos próximos 30 anos, a mudança climática fará com que até 200 milhões de pessoas sejam forçadas a deixar o local onde vivem, alertou uma organização ambiental nesta sexta-feira.
Segundo a ONG, até 2020, os processos de desertificação expulsarão de suas casas 135 milhões de pessoas --60 milhões delas na África.
O alerta foi feito pela Ecologistas em Ação, com sede em Madri, durante um evento paralelo à Cúpula contra a Desertificação, que se realiza na capital espanhola.
Para a ONG, é preciso "revisar urgentemente o conceito jurídico de refugiado para poder ampliá-lo a novas realidades sociais". "A regulamentação do chamado 'refugiado ambiental' é imprescindível para preencher uma lacuna jurídica e proporcionar proteção jurídica ao número cada vez maior de pessoas deslocadas por razões ambientais."
A discussão sobre os chamados refugiados ambientais ocorre dentro da própria ONU (Organização das Nações Unidas), que hoje define como refugiados somente aqueles que são forçados a deixar suas casas por causa de distúrbios políticos ou sociais.
Mas a própria entidade reconhece que cada vez mais pessoas são deslocadas por problemas ambientais, como o esgotamento do solo e a desertificação, ou por efeitos desses processos, como enchentes e outros desastres naturais.
A organização Ecologistas em Ação criticou nações que reforçam suas fronteiras nacionais contra a imigração, adotando o que considera "políticas migratórias que violam sistematicamente os direitos humanos e descumprem a Convenção de Genebra sobre o Estatuto dos Refugiados".
Para a entidade, governos e empresas devem conter a exploração indiscriminada de recursos naturais dos países pobres, que gerariam a perda de florestas, a degradação dos bosques nativos e a mudança no curso dos rios.
Brasil subestima mercado de carbono, diz empresário pioneiro
O fluxo de dinheiro que vai correr no mercado de créditos de carbono neste ano é de US$ 1 bilhão. Esse valor corresponde a um décimo do potencial do negócio, que vai começar a esquentar mesmo em 2008.
Mas o Brasil está perdendo fatias cada vez maiores desse bolo para os suspeitos de sempre --China e Índia--, na avaliação de um dos principais empresários do setor, o engenheiro agrônomo Pedro Moura da Costa.
"Não existe um empenho tão grande em fomentar esse setor. Tem de haver um dinamismo maior no governo brasileiro", avalia Moura da Costa. Carioca de 43 anos, há ele dez criou a EcoSecurities, empresa sediada em Londres que fez a intermediação e a consultoria de quase 20% dos contratos em curso (422 no total) no mercado de carbono oficial.
Conforme prevê o Protocolo de Kyoto, o acordo internacional contra as emissões de gases de efeito estufa, o mercado mundial de carbono gira em torno de papéis que são emitidos por projetos que reduzam a emissão de gás carbônico ou outros gases que esquentam o planeta.
Pode ser um aterro sanitário, que evite emissão de metano, ou uma usina de álcool, que corte emissões de CO2. Esses papéis, provenientes de nações ricas ou pobres, são comprados por países ricos que têm metas de redução de emissões a cumprir por Kyoto.
"O Brasil já teve uma participação maior na nossa carteira. Há dois anos, ele representava 30% dos nossos negócios. Hoje, essa participação caiu para 12%", explica Moura da Costa.
Radicado em Londres, o empresário se formou pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro antes de ir para a Malásia, onde a idéia de abrir a empresa surgiu. Se todos os certificados comercializados pela empresa (hoje presente em 27 países) fossem pagos ao mesmo tempo, isso renderia o total de 1,7 bilhão.
Uma das razões da queda do desempenho brasileiro, diz, é a atitude do governo. Como todo projeto de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) --que gera os créditos de carbono-- tem de ser aprovado na esfera governamental, o funcionamento dessa engrenagem passa a ser fundamental para todo o sistema.
"No Brasil, o processo é muito moroso, burocrático e, às vezes, você tem a impressão de que não há interesse por parte do país em fomentar essa atividade e atrair divisas por meio da emissão de créditos. Gradativamente, o Brasil perde espaço para países como China e Índia, que estão muito mais empenhados em usar esse mecanismo", disse Moura da Costa à Folha. Leia a entrevista.
Folha - Apesar de serem negociados desde 2005, os créditos de carbono ainda não estão gerando um fluxo grande de dinheiro. Quando isso vai ocorrer?
PEDRO MOURA DA COSTA - Esses contratos funcionam como se fossem os de eletricidade. A primeira coisa que o empreendedor procura é quem vai comprar a energia, por qual preço e período. Você pode fazer a entrega e também o pagamento no futuro. Os créditos estão sendo obtidos desde 2005. Já no ano que vem, um grande volume de recursos vai ser efetivamente transferido. É um mercado de US$ 10 bilhões por ano, o que equivale a 1 bilhão de toneladas de carbono aproximadamente, levando em conta o preço de US$ 10 a tonelada.
Folha - O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo já está totalmente azeitado? A forma de como fazer esses contratos já é um consenso?
MOURA DA COSTA - A parte contratual, o desenvolvimento dos projetos e as questões financeira e legal estão azeitadas. Mas a administração do MDL por parte da ONU (Organização das Nações Unidas) continua a desejar. É tudo muito burocrático. A junta executiva da instituição é composta por servidores públicos que trabalham em tempo parcial nesse tema. Basicamente, eles deliberam sobre um mercado de bilhões de dólares por ano, mas sem o profissionalismo necessário.
FOLHA - Mesmo que as engrenagens funcionem a todo vapor, o mercado e o Protocolo de Kyoto vão conseguir resolver sozinhos a questão do aquecimento global?
MOURA DA COSTA - Isso é um outro aspecto. As metas de Kyoto são incipientes para controlar o [aquecimento do] clima. Definitivamente, Kyoto não vai resolver o problema. Mas, na época, Kyoto foi importante, é o que se conseguiu negociar. Agora precisa ser criada uma consciência global de que os objetivos precisam ser muito mais ambiciosos.
FOLHA - Quer dizer que agora as atenções precisam ser centradas no pós-Kyoto?
MOURA DA COSTA - Não gosto do termo pós-Kyoto. É melhor falar no segundo período do protocolo. Agora, como será essa nova etapa, qual vai ser o comprometimento de todo mundo, vai depender do sucesso ou não da primeira fase. É muito importante que todos nós façamos essa fase inicial andar bem, com o MDL no centro de tudo isso, para que os grupos políticos possam adotar metas mais ambiciosas no futuro.
FOLHA - Nessa segunda fase de Kyoto, o Brasil deveria adotar metas de redução das emissões dos gases de efeito estufa?
MOURA DA COSTA - Mais cedo ou mais tarde vai haver a necessidade de um engajamento mais amplo. Hoje, o mundo está dividido nos países industrializados e em industrialização, esses não precisam reduzir suas emissões. Tudo bem, numa fase inicial, apenas os primeiros tiveram obrigações, mas o problema é que as emissões de países como o Brasil e a Índia estão crescendo muito. É inevitável que esses países sejam forçados a controlar suas emissões também. Isso será uma evolução normal e ética, assim como também foi ético o Brasil não ter metas nessa primeira fase.