Durante solenidade em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar os que acham que a Amazônia deve ser tratada pela comunidade internacional, e não pelo Brasil. Lula, afeito a metáforas, foi além:
- De vez em quando eu fico pensando que a Amazônia é como aqueles vidros de água benta que tem nas igrejas: todo mundo acha que pode meter o dedo. Basta ser católico e entrar na igreja que quer colocar o dedo para se benzer. A Amazônia, além de ser católica, é evangélica. Então, tem mais gente querendo botar o dedo ali - comparou o presidente, em cerimônia para assinatura do decreto de criação de três novas reservas na região amazônica, sendo duas reservas extrativistas e um parque nacional, que representam mais 2,6 milhões de hectares de área protegida.
O presidente também voltou a criticar "pessoas que não têm autoridade política" para opinar sobre a Amazônia, que, segundo ele, são "pessoas que desmataram o que tinham e o que não tinham. Pessoas que emitem CO2 como ninguém"
- É importante que as pessoas, quando vêm na casa da gente, que elas peçam licença para abrir nossa geladeira - comparou.
A devastação da Amazônia tem preocupado as entidades ambientalistas. Depois de três anos consecutivos de redução do desmatamento, a taxa voltou a subir em 2007, e especialistas atribuem o avanço ao plantio de commodities, como a soja. Nesta semana, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que a Amazônia perdeu 1.123 quilômetros quadrados de floresta em abril, área pouco menor que a cidade do Rio de Janeiro. No mês anterior, foram 145 quilômetros. Dos estados que compõem a região, o Mato Grosso liderou o desmatamento em abril.
Na solenidade, que teve a presença dos ministros Carlos Minc (Meio Ambiente) e Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula assinou decretos que criam um parque nacional e duas reservas extrativistas na Amazônia num total de cerca de 2,6 milhões de hectares.
Lula ainda relembrou seu discurso em defesa dos biocombustíveis na abertura da reunião da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no início desta semana em Roma.
O presidente defendeu uma ajuda mais próxima aos países africanos que enfrentam dificuldades com a alta nos preços dos alimentos. Lula afirmou que não adianta "dar um dinheirinho de vez em quando" às nações africanas e citou a instalação de escritórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no continente africano.
Minc fez questão de dizer que a Amazônia pertence ao povo brasileiro. Lula, mais conciliador, afirmou que a Humanidade pode se valer dos benefícios das florestas brasileiras.
- Eu não sou tão egoísta como o Minc, que fala que a Amazônia é do Brasil. Eu acho que somos tão solidários, que o território é nosso, mas os benefícios causados pela preservação que nós lá estamos fazendo queremos partilhar com a humanidade porque queremos que todos respirem o ar verde produzido pelas nossas florestas - disse Lula.
As reservas extrativistas (Resex) a serem criadas são Médio Xingu, Pará (303,8 mil hectares), e Ituxi, Amazonas (776,9 mil hectares). A criação do Parque Nacional Manpiguari (1,6 milhão de hectares), localizado nos municípios de Canutama e Lábrea, no Amazonas, tem o objetivo de preservar ecossistemas naturais de grande importância ecológica.
Fonte: O Globo / Reuters