6 de junho de 2008

Lula: Amazônia é como água benta, todo mundo quer meter o dedo

Durante solenidade em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar os que acham que a Amazônia deve ser tratada pela comunidade internacional, e não pelo Brasil. Lula, afeito a metáforas, foi além:

- De vez em quando eu fico pensando que a Amazônia é como aqueles vidros de água benta que tem nas igrejas: todo mundo acha que pode meter o dedo. Basta ser católico e entrar na igreja que quer colocar o dedo para se benzer. A Amazônia, além de ser católica, é evangélica. Então, tem mais gente querendo botar o dedo ali - comparou o presidente, em cerimônia para assinatura do decreto de criação de três novas reservas na região amazônica, sendo duas reservas extrativistas e um parque nacional, que representam mais 2,6 milhões de hectares de área protegida.

O presidente também voltou a criticar "pessoas que não têm autoridade política" para opinar sobre a Amazônia, que, segundo ele, são "pessoas que desmataram o que tinham e o que não tinham. Pessoas que emitem CO2 como ninguém"

- É importante que as pessoas, quando vêm na casa da gente, que elas peçam licença para abrir nossa geladeira - comparou.

A devastação da Amazônia tem preocupado as entidades ambientalistas. Depois de três anos consecutivos de redução do desmatamento, a taxa voltou a subir em 2007, e especialistas atribuem o avanço ao plantio de commodities, como a soja. Nesta semana, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgou que a Amazônia perdeu 1.123 quilômetros quadrados de floresta em abril, área pouco menor que a cidade do Rio de Janeiro. No mês anterior, foram 145 quilômetros. Dos estados que compõem a região, o Mato Grosso liderou o desmatamento em abril.

Na solenidade, que teve a presença dos ministros Carlos Minc (Meio Ambiente) e Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula assinou decretos que criam um parque nacional e duas reservas extrativistas na Amazônia num total de cerca de 2,6 milhões de hectares.

O presidente assinou mensagem ao Congresso Nacional do projeto de lei que institui a Política Nacional sobre Mudanças do Clima, que vai nortear o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, bem como outras ações a serem implementadas nos três níveis da federação.

Lula ainda relembrou seu discurso em defesa dos biocombustíveis na abertura da reunião da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) no início desta semana em Roma.

O presidente defendeu uma ajuda mais próxima aos países africanos que enfrentam dificuldades com a alta nos preços dos alimentos. Lula afirmou que não adianta "dar um dinheirinho de vez em quando" às nações africanas e citou a instalação de escritórios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no continente africano.

Minc fez questão de dizer que a Amazônia pertence ao povo brasileiro. Lula, mais conciliador, afirmou que a Humanidade pode se valer dos benefícios das florestas brasileiras.

- Eu não sou tão egoísta como o Minc, que fala que a Amazônia é do Brasil. Eu acho que somos tão solidários, que o território é nosso, mas os benefícios causados pela preservação que nós lá estamos fazendo queremos partilhar com a humanidade porque queremos que todos respirem o ar verde produzido pelas nossas florestas - disse Lula.

As reservas extrativistas (Resex) a serem criadas são Médio Xingu, Pará (303,8 mil hectares), e Ituxi, Amazonas (776,9 mil hectares). A criação do Parque Nacional Manpiguari (1,6 milhão de hectares), localizado nos municípios de Canutama e Lábrea, no Amazonas, tem o objetivo de preservar ecossistemas naturais de grande importância ecológica.

Fonte: O Globo / Reuters