Na segunda-feira passada, neste espaço, trouxe um esboço da perspectiva da dona-de-casa, cuja argúcia se manifesta diante das mais diferentes dificuldades e avulta agora, diante da crise econômica. A adaptação, porém, não é facultativa, mas compulsória. Todos terão que mudar o modo como lidam com o dinheiro.
O empresário Henry Macksoud, dono do famoso hotel Macksoud Plaza, de São Paulo, costumava repetir, em seu programa na Band ou nos artigos que escrevia para a revista “Visão”, que “O Estado é diferente da iniciativa privada porque não tem metabolismo e por isso não morre, não vai à falência”.
Discordo desse empresário, engenheiro civil e escritor, cujo sucesso é inegável. O Estado não fecha as portas e deixa de existir, como milhares de empresas o fazem todos os dias, é verdade, mas quando deixa de emprestar qualidade aos serviços necessários à vida em sociedade, como educação, segurança e saúde, está falido. Perde aquele pressuposto básico da popularidade, tão bem exposto por Abraham Lincoln (“Esteja bem com o povo e todas as coisas lhe serão permitidas”). Que governante poderá estar bem manietado, inerte, improdutivo?
É em momentos como o que vivemos quando o administrador sente o peso das despesas com a folha de pessoal ou com o custeio da máquina. Muitos devem se perguntar se os conceitos não mudaram e um enxugamento pragmático não se faz necessário.
Vejo com muita simpatia os 1,7 mil empregos diretos e os 2 mil indiretos gerados na obra da ponte sobre o rio Negro. É difícil um concurso público oferecer tantas vagas. Menos ainda se levarmos em conta o trabalho no Prosamim, de dimensão igualmente gigantesca, ou mesmo uma operação tapa-buracos emergencial, necessária à sobrevivência dos carros nas ruas de Manaus.
A crise contrapõe muito claramente o administrador “paizão”, que incha a folha, e o “realizador”, que contrata menos, diretamente, mas, paradoxalmente, gera muito mais empregos nas obras que empreende.
O prefeito de Manaus, Amazonino Mendes, parece ter entendido a lição, quando anuncia a meta de reduzir de 1,5 mil para 500 mil os cargos comissionados da máquina municipal. É daí que poderão vir os recursos capazes de fazer frente a desafios bem maiores que os buracos, hoje, disparado, a maior razão de reclamação na cidade.
O Brasil terá fartura de mão-de-obra disponível. O desemprego interno cresce. Mesmo os brasileiros residentes em outros países, principalmente nos Estados Unidos, estão voltando ao solo nacional. Bem ou mal, estudando ou trabalhando, eles acabaram se qualificando, convivendo com outra abordagem da coisa pública, misturando-se ao modo de vida norte-americano, aumentando o nível de respeito à cidadania.
O administrador consciente, porém, já sabe que essa gente terá que encontrar mais espaço na iniciativa privada e menos na máquina funcional. A lição de Lord Keynes, que venceu a grande depressão da primeira metade do século passado gerando empregos nas obras públicas, está aí para provar que é esse o caminho que melhor funciona.
Repito o que disse em artigo anterior. É possível fazer desse limão uma limonada e sair da crise com um Brasil mais organizado e mais preparado para atingir o sonhado desenvolvimento.
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas