Minha solidariedade a todos que, como eu, hoje estão recolhidos em manifestação de saudade dos que se foram.
Há um princípio teológico que diz respeito a todos nós, cristãos, e que deve servir de lenitivo diante da dor da morte. Afirma que os mortos já estão no juízo final. Fecharam os olhos. Dormem. Descansam. Vivem o que seria uma noite de sono para nós, que aqui ainda estamos, devendo abrir os olhos no momento da convocação final, anunciada no Apocalipse. Voltariam redimidos, descansados, plenos.
Os que se foram, por essa tese, estariam distantes do sofrimento. Vivendo em outro astral, próximos do mundo espiritual, vislumbrariam antes de nós, os vivos, o momento ansiado pela cristandade da volta triunfal do Cristo.
Há também quem diga que eles, os que se foram, estão atentos, velando por nós, em outro plano.
Em uma ou outra situação, o papel que nos cabe é estar à altura dos nossos, velando, aprimorando a conduta, contribuindo para o bem do próximo, aprofundando o contato com as coisas de Deus.
Essa idéia da vigilância superior é importante. Faz com que cuidemos com mais esmero de todos os nossos atos e até pensamentos.
Podia muito bem presidir, de forma mais intensa, a vida terrena, impedindo a violência – que hoje não poupa nem as igrejas – e espalhando a fraternidade.
Resta-nos, em vida, o combate corajoso, sem espaço para o medo. "Combater e morrer, é pela morte derrotar a morte, mas temer e morrer é fazer-lhe homenagem com um sopro servil", como afirma William Shakespeare. Victor Hugo enfatiza que "A vida não passa de uma oportunidade de encontro; só depois da morte se dá a junção; os corpos apenas têm o abraço, as almas têm o enlace".
Vida e morte caminham juntas. Uma se vê diante da inexorabilidade da outra. E só pela fé é possível ultrapassar a fatalidade do encontro final.
No Dia de Finados, minha solidariedade aos que sofrem pela partida. Lutemos, unidos, por um mundo melhor e mais digno dos que se foram.
Rebecca Garcia





