30 de junho de 2010

O menino Calebe


O garoto chamado José Calebe, aos 10 anos, me levou à emoção no Festival Folclórico de Parintins. Em meio à profusão de surpresas de Garantido e Caprichoso, aquela voz afinada, desafiando a idade e o nervosismo de cantar em público, estreando com firmeza, elevou-se acima da rivalidade e das paixões, impondo o talento a todas essas coisas.

José Calebe é a demonstração do tesouro guardado na alma do caboclo. Soube, outro dia, que um dos melhores tenores do País, hoje, chama-se Miquéias Williams. Nascido em Manacapuru, depois de vir com os pais para Manaus, morando na Compensa, ele assistiu ao show dos tenores Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo, nas termas de Caracalla, em Roma, no dia 7 de julho de 1990, durante a Copa da Itália, apaixonando-se pelo estilo musical.

Miquéias contou essa história num jantar, outro dia, dizendo que ali, naquele momento, sonhou que um dia cantaria igual àqueles monstros sagrados da música internacional. Imagino o sentimento dos pais, naquela linha de passar a mão na cabeça do menino e pensar algo como “sonha, meu filho, que sonhar é permitido”.

Em 1997, com o Festival de Ópera e a formação do Conservatório Cláudio Santoro, em Manaus, o garoto viu seu sonho começar a se materializar. Lutou, entrou, estudou, partiu para fora da cidade, buscou os melhores mestres e hoje está formado.

Canta muito bem Miquéias Williams, o tenor que veio de Manacapuru e mora na Compensa. Lá, em meio aos jovens do bairro, criou um Festival de Ópera na Rua, com apresentações muito apreciadas pela comunidade.

Miquéias Williams e José Calebe são dois amazonenses que nos enchem de orgulho. Calebe cantou uma música conhecida, na primeira noite, “Amazonas”, de Chico da Silva. Todos puderam acompanhá-lo. Na segunda noite, trouxe uma inédita, desconhecida, e mesmo assim deu conta do recado.

Eu me indago, com todos esses anos acompanhando Festival Folclórico e agora muito mais de perto, devido à cobertura ao vivo da Band, o quanto ainda nos reservam de surpresa os parintinenses, os amazonenses, na arte e na cultura?

Só me resta curvar-me e dar os parabéns. Emocionada. Agradecida. Feliz.

Rebecca Garcia
Artigo publicado no jornal Diário do Amazonas

Foto: Chico Batata/Agecom-AM