O governo pretende proibir a derrubada de floresta nativa em todo o país para expansão do plantio de cana-de-açúcar e instalação de usinas de açúcar e álcool. Esta será uma das diretrizes do primeiro zoneamento agroecológico brasileiro voltado exclusivamente para o setor, que será lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva até 30 de julho. A medida é mais uma carta na manga a ser usada por Lula, com governadores e prefeitos, em defesa dos biocombustíveis. Também não será permitido o cultivo de cana nos biomas amazônico e do Pantanal, assim como em terras indígenas e de quilombolas.
Para inibir qualquer tentativa de plantio inadequado, a orientação a todas as esferas de governo é que as políticas públicas de incentivo, incluindo reduções tributárias e financiamento barato concedido por bancos oficiais, como o BNDES, sejam voltadas para estimular áreas de pastagens degradadas ou de baixo rendimento. Locais onde já existem cultivos de outros produtos que ajudam a formar pequenas cadeias produtivas locais - caso da soja com agricultores, indústrias beneficiadoras e outros segmentos- não terão espaço para abrigar lavouras de cana-de-açúcar.
Professor: governo perdeu controle do desmatamento
Dos cerca de 200 milhões de hectares de pastagens no país, 50 milhões se enquadram nas condições de degradadas ou de baixo rendimento, com uso reduzido. A produção atual de cana atinge sete milhões de hectares, dos quais 3,5 milhões se destinam à produção de etanol. O volume de terras disponíveis cresce ainda mais, se a relação de 1,4 cabeça de gado por hectare, contabilizada em São Paulo, for usada nos demais estados brasileiros. Sobrariam outros 36 milhões de hectares, levando-se em conta que a média nacional é de uma cabeça por hectare.
- Com tudo isso, não será preciso derrubar uma única árvore. Já existem áreas de sobra para a expansão do plantio e, principalmente, a instalação de usinas - disse o coordenador-geral de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura, Cid Caldas, acrescentando que o projeto não abrangerá as atuais áreas plantadas de cana e as unidades produtoras.
Caldas é um dos grandes responsáveis, na área técnica, pela difusão do programa de etanol e biodiesel no Brasil e no exterior. Ele afirma estar impressionado com a falta de informação dos estrangeiros em relação à Amazônia.
- Tem gente que pensa que a Amazônia está colada em São Paulo - afirma Caldas.
Para acabar com as dúvidas que prejudicam a imagem do Brasil, Lula decidiu promover um seminário em nível mundial em novembro deste ano, em São Paulo, sobre os biocombustíveis. O presidente quer especialistas, acadêmicos, técnicos e cientistas envolvidos nos debates.
Porém, para o diretor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília, Carlos Francisco Rossetti, o governo perdeu o controle em relação ao desmatamento.
- O desmatamento está correndo solto há muito tempo, e a cana-de-açúcar ilustra bem esse caso - afirmou Rossetti, que defende a transformação das florestas em áreas públicas.
Fonte: O Globo Online
17 de junho de 2008
terça-feira, junho 17, 2008